Sabedoria, uma maneira de ver as coisas! Claude Lévi-Strauss, antropólogo conterrâneo de Proust e, sem dúvida, o mais importante estudioso contemporâneo das culturas, escreveu em O cru e o cozido que “o sábio não é o homem que fornece verdadeiras respostas; é o que formula as verdadeiras perguntas”.
É necessário fazer outras perguntas, ir atrás das indagações que produzem o novo saber, observar com outros olhares através da história pessoal e coletiva, evitando a empáfia daqueles e daquelas que supõem já estar de posse do conhecimento e da certeza. Tempos de arrogância estes nossos! Muitos cientistas se arvoram em detentores da exclusiva posse da verdade, vários governantes assumem posturas petulantes ao recusarem a existência de concepções divergentes, inúmeros especialistas insistem na rejeição aos fatos em nome das teorias, variados líderes religiosos impedem o afloramento da quebra da alienação. Está rareando entre os altamente escolarizados e economicamente beneficiados a imprescindível modéstia sincera, aquela que nos permite enxergar limites nos nossos saberes e poderes.
Por isso, é imprescindível revisitar um monge beneditino que há aproximadamente 1.300 anos viveu na Inglaterra: Beda, que, além de ter sido santificado pela Igreja do período, era chamado também de o Venerável. Tamanha foi a erudição e honestidade narrativa que sustentou ao escrever uma trajetória de seu país – desde a ocupação romana até aqueles dias – que sua obra tornou-se referência para os estudos históricos medievais.
Um homem como ele, pleno de conhecimentos e admirado pela imensa capacidade intelectual, conseguiu não ser vítima da presunção que acomete a muitos e muitas nessa condição ou, até, longe dela; Beda nos legou (com validade indeterminada!) uma prescrição em forma de advertência, na qual diz que há três caminhos para a infelicidade (ou fracasso): 1) não ensinar o que se sabe; 2) não praticar o que se ensina; 3) não perguntar o que se ignora.
Uma tríade assim arremessa a idéia de sucesso para muito além do que muitos acreditam nos nossos modernos tempos; poderíamos dizer – retomando pelo positivo as três advertências de Beda – que o sucesso está na generosidade mental (ensinar o que se sabe), na honestidade moral (praticar o que ensina) e na humildade inteligente (perguntar o que ignora). Nesse sentido, o ensinamento do monge está impregnado do que entendemos ser a sabedoria ou, mais ainda, a sapiência.
Mas, como bradava o sólido lema francês do ensaísta Montaigne – no século em que o Brasil era fundado – “que sais-je? – (que sei eu?)...
Não nascemos prontos! Provocações Filosóficas
Mario Sergio Cortella
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