“Não siga o passado, não se perca no futuro. O passado não existe mais, o futuro ainda não chegou. Observando profundamente a vida como ela é, aqui e agora, é que permanecemos equilibrados e livres. (Bhaddekaratta Sutta) "
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Vida cotidiana, vida zen
No budismo, a vida espiritual requer a prática de tomar um voto. Os budistas mahayana tomam o voto do bodhisattva, que tem quatro partes: de saber a verdade, de salvar todos os seres, de aprender os ensinamentos do Buda, e de seguir o caminho do Buda.
No zen se fala de viver no voto. Isto significa que concentramo-nos nas atividades da vida cotidiana. Quando é hora de levantar, levantamo-nos. Quando é hora de lavar a louça, simplesmente lavamos a louça. Mas vocês podem pensar, qual a diferença entre viver com o voto e somente formar um hábito?
Nós formamos hábitos todos os dias - ao ver televisão, ir para a escola, ir para o trabalho. Os hábitos estão ligados aos nossos desejos. Se não há satisfação em um hábito, vocês não continuarão nele por muito tempo. Viver com o voto, porém, é levar suas tarefas adiante, sem tentar satisfazer os seus desejos individuais. Em todas as circunstâncias, além dos "gostos" ou "desgostos", há de levar adiante. É bem difícil, mas é muito importante. Esta é a diferença entre hábito e voto. A diferença é total.
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As mudanças que ocorrem através da prática espiritual não são da sua alçada. Se tentarem fazer destas mudanças a sua alçada, vocês tentarão mudar a sua vida, diretamente. Se tentarem mudar a sua vida diretamente, isto não os satisfará, não importa quanto tempo vocês gastem com isto. Se quiserem mudar a sua vida, de verdade, devem somente formar a rotina de fazer as pequenas coisas, dia após dia. Aí então sua vida mudará além das expectativas. Se praticarem continuamente, dia após dia, vocês se tornarão pessoas pacíficas, gentis, e harmoniosas. Não há explicação para isto.
Eu ouvi uma história interessante, sobre como um psicólogo famoso, no Japão, curou uma jovem, depois que ela teve um ataque nervoso. A garota era de uma família rica, e o psicólogo a via regularmente. Mas ele não fazia, ou dizia, coisa alguma; ele somente sentava com ela. Um dia, enquanto ele estava sentado com ela, a garota urinou no chão, bem à sua frente. Ele era um cavalheiro muito arrumado, e estava vestido com um terno muito elegante. No momento em que ela fez isto, porém, ele imediatamente pegou o seu bonito lenço do bolso e, sem comentários, limpou o chão.
Ela se recuperou prontamente. Mais tarde ela relembrou-se deste acontecimento, pois ficou muito impressionada pela ação do psicólogo naquele dia. Sem hesitação, ele somente enxugou o chão com o seu lenço limpo. Não há maneira de explicar como ela se recuperou; ele não fez nada; somente limpou, naquele dia. Ela, porém, pôde sentir algo muito suave, gentil e magnânimo saindo de cada poro do corpo dele. Ela realmente o respeitava.
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Viver com o voto é como viajar descendo o rio Mississipi. Se vocês vão para o meio do rio, não há necessidade de um esforço a mais. Se vocês forem para o centro das suas vidas, o rio da vida lhes carregará. Se praticarem desta forma, encontrarão um ritmo natural para suas vidas. Comecem tomando conta de pequenas coisas, cotidianamente, e em algum momento chegarão ao "meio do rio".
Antes que se alcance o meio da corrente, a prática parece dura. Muitas pessoas desistem. Elas desistem, porém, porque não vêem sua vida a longo prazo. Elas querem resultados, aqui e agora. A vida é muito dura, se tomamos esta atitude. Tornamo-nos nervosos, irritados, e frios.
Se aprenderem a ter uma visão de longo alcance da vida, vocês continuarão a praticar rotineiramente, e chegarão ao meio da corrente. Aí, então, sem nenhum esforço a mais, seu corpo e mente se moverão em paz e harmonia. Um sentimento de suavidade, generosidade, e magnanimidade fluirá de cada poro do seu corpo. Seu voto terá se tornado a sua vida.
Dainin Katagiri, You Have to Say Something: Manifesting Zen Insight.
Traduzido por Lucas Seigaku.
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