domingo, 27 de setembro de 2009

Economia do Amor, Economia do Agora


O trem estava semivazio, no caminho entre Genebra e Lugano. Estávamos atravessando o colo do St. Gottard quando comecei a conversar com a mocinha que estava no banco diante do meu.

- Vejo que vc está lendo um livro de economia.

- Sim, acabei de me formar.

- Trabalho como economista lá no Brasil. Que pretende fazer agora que se formou?...

- Ainda não sei. Que é que você faz?

Comecei a contar sobre os trabalhos comunitários, o desenvolvimento integral, a propriedade social, a autonomia e autogestão, as iniciativas de economia solidária voltadas para a criação de uma nova economia desde o local até o Planeta, os valores da cooperação, da solidariedade, do amor, as moedas sociais, o mercado solidário, os preços solidários, o custo total como meio de eliminar as ‘externalidades’ reavaliando o custo real dos investimentos, a integração regional dos povos, e não dos mercados e das grandes corporações, a visão de uma globalização solidária...

Também falei do trabalho que o PACS faz de crítica do sistema do capital, do mercado dos fetiches, do consumismo, das desigualdades sociais, raciais, de gênero, da destruição dos ecossistemas pela ganância e irresponsabilidade dos que só querem consumir e vender e reduzem a maioria à luta diária ao trabalho pela mera sobrevivência física.

- Caramba, tudo isso é muito bonito, mas totalmente distante do que eu estudei. Não consigo nem imaginar!

Fiquei um momento em silêncio. Senti que precisava encontrar outra forma de me comunicar com o coração dela, e não só com o intelecto. Afinal, me veio uma luz:

- Imagine que antes de você descer deste trem na aldeia da sua família você sente uma grande dor. Uma ambulância é chamada para receber você ao descer do trem, leva você para o hospital e depois dos exames o médico diz: “Você está muito doente, talvez tenha só mais um dia de vida.” Que você faria neste último dia de vida terrena? Com quem gostaria de estar?

A moça ficou estatelada. Como quase todos os jovens, ela não se colocava a possibilidade de morrer. Depois de longo momento de silêncio pensativo ela ensaiou uma resposta:

- Bem... Eu ia ficar com minha família, ia chamar as pessoas de quem gosto e ficar sentindo o carinho e o amor delas.

Então eu falei, pausadamente e com firmeza:

- E por que esperar o último dia da sua vida para viver o carinho e o amor?

De novo, ela ficou como que atordoada. E eu acrescentei:

- A economia solidária pretende ser uma economia do amor em cada troca, em cada ato de produzir, distribuir, consumir. Amor a mim próprio, aos outros e à Terra. Uma economia humana, a serviço da sociedade e em harmonia com a Natureza. Uma economia que gera felicidade em cada Agora...

- Vou pensar sobre isso. Faz sentido mesmo!

E nos despedimos.

Vivido em 1997

Leia mais: A Economia do Amor, por Hazel Henderson

“A natureza é a professora
que dita como as coisas podem
ser feitas neste momento”
Hazel Henderson

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