sábado, 31 de janeiro de 2009

Transcendidos touro e eu


(As Dez Figuras do Boiadeiro - 8)

Esta é a ausência tanto do esforço quanto do não-esforço. É a imagem desnuda do princípio primordial do Buda. Esta entrada no Dharmakaya é a perfeição do não-vigiar – não há mais critérios, e a compreensão de Maha Ati como um estágio definitivo é completamente transcendida.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Transcendido o touro


(As Dez Figuras do Boiadeiro - 7)

Mesmo aquela alegria e cor torna-se irrelevante. A mandala de símbolos e energias do Mahamudra se dissolve no Maha Ati através da total ausência da idéia de experiência. Não há mais touro. A louca sabedoria torna-se cada vez mais evidente e você abandona completamente a ambição de manipular.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Montando no touro e indo para casa


(As Dez Figuras do Boiadeiro - 6)

Já não há mais nenhuma busca. O touro (a mente) finalmente obedece ao mestre e se torna energia criativa. Este é o rompimento final ao estado da iluminação – o samadhi vajra do Décimo Primeiro Bhumi. Com o desdobrar da experiência de Mahamudra, a luminosidade e cor da mandala transformam-se na música que guia o touro para casa.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Domando o touro


(As Dez Figuras do Boiadeiro - 5)

Uma vez capturado o touro, altinge-se sua doma através da atenção meditativa panorâmica e do lancinante chicote do conhecimento transcendental. O Bodisatva conquistou as ações transcendentes (paramitas) – e não se fixa a coisa alguma.

A palavra paramita significa “ir até a outra margem”. Essas ações são como um bote que usamos para atravessar o rio do samsara. As paramitas são também chamadas ações transcendentes porque são baseadas em dar um passo além das noções convencionais de virtude e não-virtude. Elas nos treinam para irmos completamente além das limitações da visão dualista e para desenvolvermos uma mente flexível.
(Pema Chodron)

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Capturando o touro


(As Dez Figuras do Boiadeiro - 4)

Após ter o vislumbre do touro, você descobre que a generosidade e a disciplina não são suficientes parar lidar com suas projeções, você ainda tem que transcender completamente a agressão. Você tem que reconhecer a precisão dos meios hábeis e a simplicidade de ver as coisas como elas são, o que está ligado com a compaixão plenamente desenvolvida. O subjugar da agressão não pode ser feito num panorama dualista – é preciso um compromisso total com o caminho compassivo do Bodisatva, ou seja, um desenvolvimento mais amplo da paciência e do vigor.

Extraído do site Bodisatva

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Encontrando o touro


(As Dez Figuras do Boiadeiro - 3)

Você fica pasmo ao perceber o touro e então, porque já não há mais nenhum mistério, você se pergunta se ele está realmente ali; você percebe sua qualidade insubstancial. Você perde a noção de um critério subjetivo. Quando você começa a aceitar esta percepção da não-dualidade, você relaxa, porque não precisa mais defender a existência de seu ego. Você pode dar-se ao luxo de ser aberto e generoso. Você começa a ver outras formas de lidar com seus projetos e isso em si é alegria, o primeiro nível espiritual de conquista de um Bodisatva.

Aqui a consciência do caminho ensinado pelo Buddha, que leva ao Despertar, passa a acionar a ação correta. São 3 ensinamentos e oito chaves (ou praticas) do caminho.

Os Três Treinamentos Superiores

Os Três Treinamentos Superiores
O Nobre Caminho Óctuplo
I. Sabedoria 1. Visão Correta
2. Pensamento Correto
II. Ética (ou Moralidade) 3. Fala Correta
4. Ação Correta
5. Meio de Vida Correto
III. Meditação 6. Esforço Correto
7. Atenção Correta
8. Meditação Correta


O nobre caminho é conhecido como o “caminho do meio” porque é baseado na moderação na harmonia, e na sabedoria.

Extraído do site Bodisatva.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Descobrindo as pegadas


(As Dez Figuras do Boiadeiro - 2)

Ao compreender a origem desta dor, você descobre a possibilidade de transcende-la. Este é o reconhecimento das Quatro Nobres Verdades no budismo. Você vê que a dor resulta dos conflitos criados pelo ego, e descobre as pegadas do touro, que são suas pesadas marcas, e que tomam parte em todos os eventos os transformando em jogos. Você é inspirado por conclusões lógicas inabaláveis, não pela fé cega. Isto corresponde aos caminhos Shravakayana e Pratyekayana.

As quatro nobres verdades são as bases da compreensão em direção à consciência e liberação. Saõ elas: 1. Todos os seres estão sujeitos ao sofrimento (velhice, doença, morte, insatisfação etc.); 2. O sofrimento (ou insatisfatoriedade) surge de causas (cobiça, raiva, ignorância etc.); 3. Ao eliminarmos as causas, o sofrimento é eliminado; 4. Praticando o nobre caminho óctuplo, o sofrimento e suas causas são eliminadas.

Praticar o aprendizado com todas as coisas que acontecem no caminho é encontrar um oásis no meio do caos apontado pelo movimento interior. Isto só será possível se a ACEITAÇÃO DE SI MESMO e o NÃO JULGAMENTO tomarem assento nas experiências da vida, junto a você.


Extraído do site Bodisatva.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Procurando o touro


(As Dez Figuras do Boiadeiro - 1)

A inspiração para este primeiro passo, procurar o touro, é a sensação de que as coisas não são íntegras, de que alguma coisa está faltando. Este sentimento de perda produz dor. Você está procurando algo que faça a situação se endireitar. Você descobre que as tentativas do ego na direção de criar um ambiente ideal são insatisfatórias.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

O Caminho do meio


Não devemos confundir os mestres Zen com os "Mahatmas" teosóficos. Os mestres Zen são perfeita¬mente humanos. Adoecem e morrem; conhecem a alegria e a dor; têm mau-humor , ou qualquer outra perfeita "fraqueza" de caráter, tal como qualquer outra pessoa, e não são superiores nas suas paixões. A perfeição Zen está em ser-se simplesmente humano. A diferença entre o mestre Zen e o ser humano comum reside na luta que este último trava incessantemente contra si próprio e a própria humanidade, procurando ser anjo ou demônio. Diz uma célebre frase de Ikkyu:

Os Anjos e os Demônios ocupam as posições mais alta e mais baixa, as posições da perfeita felicidade e da perfeita frustração. Estas posições estão nos pólos opostos de um círculo porque conduzem uma á outra. Não representam literalmente seres , mas os nossos próprios ideais e terrores dados que a roda da vida( das "reencarnações") é na realidade a nossa mente.

A posição do homem reside no meio.

No zen o homem não tem a mente separada entre aquilo que conhece e vê:

A longa noite.
O som da água diz aquilo que penso.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Medo da verdade


A prática inteligente sempre lida apenas com uma coisa: o medo na base da existência humana, o medo de que "eu não sou". E é claro que "eu não sou", mas a última coisa que quero saber é isso: eu sou a própria impermanência em uma forma humana em rápida mudança, mas que aparenta solidez. Eu temo ver o que sou: um campo de energia sempre em mutação...

Então a boa prática se refere ao medo. O medo toma a forma de pensamento constante, especulação, análise, fantasia. Com toda essa atividade, criamos uma nuvem-tampa para nos manter seguros em uma prática de faz-de-conta.

A verdadeira prática não é segura; é tudo menos segura. Mas não gostamos disso, então ficamos obcecados em nossos esforços febris para alcançar nossa versão do sonho pessoal. Tal prática obsessiva é também apenas outra nuvem entre nós e a realidade.

A única coisa que importa é ver com uma lanterna impessoal: ver as coisas como elas são. Quando a barreira pessoal cai, por que precisamos chamar isso de alguma coisa? Apenas vivemos nossas vidas. E quando morremos, apenas morremos. Nenhum problema em nenhum lugar.

Charlotte Joko Beck, "Everyday Zen"

domingo, 18 de janeiro de 2009

O Apego


"Naquele que tem apego, há agitação. Naquele que não tem apego, não há agitação. Não havendo agitação, há calma. Havendo calma, não há preferência. Não havendo preferência, não há ir e vir. Não havendo ir e vir, não há falecimento e renascimento. Quando não há falecimento e renascimento, não há nem um aqui, nem um ali, e tampouco entre os dois. Isso, justamente isso, é apenas o fim do sofrimento."

Siddhārtha Gautama, o Buddha.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

A outra margem


[...] Jamais saberemos se somos capazes de alcançar a outra margem de um rio muito turbulento, sem molhar nossas roupas, nosso corpo e nosso barco em suas águas. Somente as grandes tempestades fazem os grandes navegadores e, sem dúvida, são os percalços, não as amenidades do caminho, que moldam e aquilatam a cepa de um discípulo, toda grande obra depende de grandes atos, e as vicissitudes são, na verdade, a matéria-prima de transformação que almejamos ver concretizar-se. Portanto, devemos sempre nos espelhar na profunda sabedoria do Lótus, que é capaz de transformar o lodo mais escuro numa flor alva e magnífica.

Vivendo o Darma, Vivendo o Buda
- Monja Zen A. Zuiten - Ed. Bodigaya

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Origami e o Zen


por Norberto Kawakami

Toda vez que vejo alguma técnica que visa aumentar a durabilidade de um origami, passando verniz em spray ou coisa do gênero, me vem à lembrança o que o zen-budismo diz: que nada é perene e que tudo muda. E por que me lembro disto?

Para se fazer o origami durar mais, faz-se parecer que ele nem é feito de papel, tirando toda a magia da figura.

E a real graça está aí mesmo. Feito para durar enquanto dure, aparentando ser o que ele é: UM PEDAÇO DE PAPEL!

É claro que, depois de dias dobrando um origami super-complexo, queiramos que ele dure bastante… Mas quanto tempo é o bastante? E você se contenta em fazer o origami somente uma vez?

Talvez a resposta esteja na última pergunta… A cada vez que se faz um diagrama, se faz cada vez melhor (é claro), mas na realidade, mesmo fazendo-os perfeitos, eles serão diferentes porque a cada vez observa-se algo diferente. E isto se alcança quando se faz um origami com todos os passos memorizados…

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

A quem pertence o presente?


Perto de Tóquio vivia um grande samurai, já idoso, que agora se dedicava a ensinar o zen aos jovens. Apesar de sua idade, corria a lenda de que ainda era capaz de derrotar qualquer adversário.

Certa tarde, um guerreiro conhecido por sua total falta de escrúpulos apareceu por ali. Era famoso por utilizar a técnica da provocação: esperava que seu adversário fizesse o primeiro movimento e, dotado de uma inteligência privilegiada para reparar os erros cometidos, contra-atacava com velocidade fulminante. O jovem e impaciente guerreiro jamais havia perdido uma luta. Conhecendo a reputação do samurai, estava ali para derrotá-lo, e aumentar sua fama. Todos os estudantes se manifestaram contra a idéia, mas o velho aceitou o desafio. Foram todos para a praça da cidade, e o jovem começou a insultar o velho mestre. Chutou algumas pedras em sua direção, cuspiu em seu rosto, gritou todos os insultos conhecidos, ofendendo inclusive seus ancestrais. Durante horas fez tudo para provocá-lo, mas o velho permaneceu impassível. No final da tarde, sentindo-se já exausto e humilhado, o impetuoso guerreiro retirou-se.

Desapontados pelo fato de que o mestre aceitar tantos insultos e provocações, os alunos perguntaram: 'Como o senhor pode suportar tanta indignidade? Por que não usou sua espada, mesmo sabendo que podia perder a luta, ao invés de mostrar-se covarde diante de todos nós?'

'Se alguém chega até você com um presente, e você não o aceita, a quem pertence o presente?' - perguntou o Samurai. 'A quem tentou entregá-lo' - respondeu um dos discípulos. 'O mesmo vale para a inveja, a raiva, e os insultos' - disse o mestre. 'Quando não são aceitos, continuam pertencendo a quem os carregava consigo. A sua paz interior, depende exclusivamente de você. As pessoas não podem lhe tirar a calma, só se você permitir...'

Conto Zen.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Lótus, a postura da flor


A imagem da flor de lótus simboliza elevação e expansão espiritual. É difícil encontrar um país da Ásia onde o lótus não seja considerado sagrado.

Venerada do Egito à China como símbolo da pureza espiritual, a flor de lótus tem sido representada, desde tempos imemoráveis, ao lado de deuses, budas e mestres iluminados.

Para os chineses, a flor representa o passado, o presente e o futuro porque contém, ao mesmo tempo, o botão, a flor e o fruto. No Oriente, o lótus simboliza ainda os níveis de consciência que os homens podem alcançar e o florescimento do potencial humano. Os budas em meditação geralmente aparecem sentados sobre flores de lótus e a expansão da visão espiritual que alcançam é simbolizada pela flor completamente aberta. Um dos principais mantras sagrados do budismo tibetano, “Om Mani Padme Hum”, significa literalmente “Da lama nasce a flor de lótus”.

As escrituras indianas que relatam a criação do Universo descrevem o centro do lótus como o berço do mundo. Elas contam que, do umbigo de Vishnu, nasceu uma esplendorosa flor de lótus e, dela, teria brotado Brahma, o criador do Cosmo. Nas gravuras indianas, os deuses costumam aparecer em pé ou sentados sobre a flor, um indicativo de sua divindade.

Segundo o pesquisador francês Jean Chevalier, autor do livro Dicionário de Símbolos (ed. José Olympio), a flor de lótus simboliza também “a taça da vida, o coração e o amor. Pode ser contemplada como uma mandala e considerada como um centro místico”.

ZAZEN:
Geralmente, no lugar onde for meditar, coloca-se uma almofada redonda e espessa. Você pode sentar na postura de lótus ou de meio-lótus. Na postura do lótus, coloque o pé direito sobre a coxa esquerda e o pé esquerdo sobre a coxa direita. Em meio-lótus, apenas coloque pé esquerdo sobre a coxa direita. A roupa deve ser confortável.

Depois, coloque a mão direita sobre o pé esquerdo e a mão esquerda sobre a palma da mão direita, com as pontas dos polegares tocando-se levemente. Sente-se ereto, sem se inclinar para a nem para a esquerda ou para a direita, nem para frente ou para trás. Suas orelhas devem estar alinhadas com os ombros e o nariz deve estar alinhado com o umbigo. A língua deve ficar encostada no céu da boca, os lábios e os dentes dever estar fechados firmemente. Com os olhos sempre abertos, respire calmamente pelas narinas.

domingo, 11 de janeiro de 2009

A jornada e o destino


Quando estamos dirigindo, tendemos a pensar na chegada, e sacrificamos a jornada em relação à chegada. Mas a vida é encontrada no momento presente, não no futuro. De fato, podemos sofrer até mais ao chegarmos ao destino. Já que vamos falar de um destino, que tal nosso destino final, o cemitério? Não queremos ir na direção da morte. Queremos ir em direção à vida.

Mas onde está a vida? A vida só pode ser encontrada no momento presente. Assim, cada quilômetro que dirigimos, cada passo que damos, tem que nos levar ao momento presente. Essa é a prática do estado da mente desperta.

Quando vemos um sinal vermelho ou um sinal de parada, podemos sorrir a isso e agradecer, porque é um bodhisattva nos ajudando a retornar ao momento presente. A luz vermelha é um sinal do estado desperto. Poderíamos ter pensado nisso como um inimigo, bloqueando a conquista do objetivo. Mas agora sabemos que o sinal vermelho é nosso amigo, nos ajudando a resistir à pressa e nos chamando de volta ao momento presente, onde podemos encontrar vida, alegria e paz.

Thich Nhat Hanh, em "Present Moment, Wonderful Moment".

sábado, 10 de janeiro de 2009

Carma não é destino fixo


Carma é geralmente confundido com a noção de um destino fixo. Mas é mais como uma acumulação de tendências que podem nos travar em certos padrões de comportamento, que por si só resultam em mais acumulações de tendências de natureza similar. [...]

Ser um prisioneiro de carma antigo não é necessário. [...] Aqui está como o estado desperto muda o carma. Quando você medita, está tirando a permissão para que seus impulsos se transformem em ação. Nesse intervalo, pelo menos, você está apenas observando-os. Olhando para eles, você rapidamente vê que todos os impulsos na mente surgem e passam, que eles possuem sua própria vida, que não são você -- mas apenas pensamentos --, e que você não precisa ser comandado por eles. Não alimentando ou reagindo aos impulsos, você passa a compreender diretamente a natureza deles como pensamentos.

Esse processo realmente queima impulsos destrutivos nas chamas da concentração, equanimidade e não-ação. Ao mesmo tempo, insights e impulsos criadores não mais ficam tão espremidos pelos mais turbulentos e destrutivos. Eles são nutridos do modo como são percebidos, mantidos no estado desperto.

Jon Kabat-Zinn, em "Wherever You Go, There You Are". (Postado originalmente no blog Samsara)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

VENDE-SE TUDO!


"APEGO" – por Martha Medeiros

No mural do colégio da minha filha encontrei um cartaz escrito por uma mãe, avisando que estava vendendo tudo o que ela tinha em casa, pois a família voltaria a morar nos Estados Unidos. O cartaz dava o endereço do bazar e o horário de atendimento. Uma outra mãe, ao meu lado, comentou:

_ Que coisa triste ter que vender tudo que se tem.
_ Não é não, respondi, já passei por isso e é uma lição de vida.

Morei uma época no Chile e, na hora de voltar ao Brasil, trouxe comigo apenas umas poucas gravuras, uns livros e uns tapetes. O resto vendi tudo, e por tudo entenda-se: fogão, camas, louça, liquidificador , sala de jantar, aparelho de som, tudo o que compõe uma casa. Como eu não conhecia muita gente na cidade, meu marido anunciou o bazar no seu local de trabalho e esperamos sentados que alguém aparecesse. Sentados no chão. O sofá foi o primeiro que se foi. Às vezes o interfone tocava às 11 da noite e era alguém que tinha ouvido comentar que ali estava se vendendo uma estante. Eu convidava pra subir e em dez minutos negociávamos um belo
desconto. Além disso, eu sempre dava um abridor de vinho ou um saleiro de brinde, e lá se iam meus móveis e minhas bugigangas. Um troço maluco: estranhos entravam na minha casa e desfalcavam o meu lar, que a cada dia ficava mais nu, mais sem alma .

No penúltimo dia, ficamos só com o colchão no chão, a geladeira e a TV.

No último, só com o colchão, que o zelador comprou e, compreensivo, topou esperar a gente ir embora antes de buscar. Ganhou de brinde os travesseiros.

Guardo esses últimos dias no Chile como o momento da minha vida em que aprendi a irrelevância de quase tudo o que é material. Nunca mais me apeguei a nada que não tivesse valor afetivo. Deixei de lado o zelo excessivo por coisas que foram feitas apenas para se usar, e não para se amar. Hoje me desfaço com facilidade de objetos, enquanto que torna-se cada vez
mais difícil me afastar de pessoas que são ou foram importantes, não importa o tempo que estiveram presentes na minha vida. Desejo para essa mulher que está vendendo suas coisas para voltar aos Estados Unidos a mesma emoção que tive na minha última noite no Chile . Dormimos no mesmo colchão, eu, meu marido e minha filha, que na época tinha 2 anos de idade. As roupas já estavam guardadas nas malas. Fazia muito frio. Ao acordarmos, uma vizinha simpática nos ofereceu o café da manhã, já que não tínhamos nem uma xícara em casa.

Fomos embora carregando apenas o que havíamos vivido, levando as emoções todas: nenhuma recordação foi vendida ou entregue como brinde. Não pagamos excesso de bagagem e chegamos aqui com outro tipo de leveza.

... e se só possuímos na vida o que dela pudermos levar ao partir?
... é bom refletir e começar a trabalhar um pouco mais o DESAPEGO!


Martha Medeiros é jornalista e escritora brasileira. É colunista do jornal Zero Hora de Porto Alegre, e de O Globo, do Rio de Janeiro.

Para completar:
“se temos as pessoas para amarmos e as coisas para usarmos, porque amamos as coisas e usamos as pessoas?” (bob marley)

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Esforço no Zen


A qualquer hora, em qualquer lugar, você não deve esquecer a sua direção. Por que você come todos os dias? Quando você nasce de onde você vem? Quando morre, para onde vai? "Vir de mãos vazias, ir de mãos vazias- isso é humano." Todos vêm para o mundo sem trazer coisa alguma. Todos partem daqui sem levar nada também. Não podemos carregar nada conosco. No entanto, entre esses dois momentos, todos desejam coisas, todos perseguem coisas, e todos ficam muito apegados às coisas. Mas, quando você nasce, tudo já está pronto. Seu carma nessa vida já foi determinado pelo carma que você cultivou em vidas anteriores. Você não pode fazer nada.

Todavia, há uma maneira de modificar isso. Se você puder controlar a sua mente de momento a momento, então será possível mudar a sua vida e evitar que ela seja um produto automático do seu carma. Assim, você deveria direcionar a sua energia para o modo como mantém a sua mente, exatamente agora: quando anda, pára, senta, deita, conversa, está em silêncio ou vive em completa quietude- em qualquer lugar, em qualquer momento- como você mantém a sua mente? As condições e situações exteriores estão constantemente carregando a sua mente para aqui e para ali, para cá e para acolá. É possível encontrar a sua verdadeira natureza em meio a todo este ir e vir, em meio as suas atividades diárias. Isto se chama manter uma mente que não se move.

A Bússula do Zen - Mestre Zen Seung Sahn.

domingo, 4 de janeiro de 2009

O ego ou eu?


“De acordo com a visão budista, o ego ou eu, não existe. Não é baseado em nenhum fator definitivo ou real de qualquer tipo. Baseia-se puramente na crença ou suposição de que já que eu me chamo assim ou assado, portanto eu existo. E se eu não sei como sou chamado, qual é meu nome, então não há estrutura na qual a coisa toda seja baseada. A forma de trabalhar dessa crença primitiva é que ao acreditar “naquilo,” o outro, “isto” surge, o eu. Se “aquilo” existe, então “isto” precisa também existir. Acredito “naquilo” porque preciso de um ponto de referência para minha própria existência, para “isto.”

(Chögyam Trungpa / Louca Sabedoria)

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Mente turbulenta


No instante de um pensamento,
Minha mente turbulenta chegou a um descanso.

O interior e o exterior,
Os sentidos e seus objetos,
São completamente lúcidos.

Em uma volta completa,
Esmaguei a grande vacuidade.

As dez mil manifestações
Surgem e desaparecem
Sem qualquer razão.

Han-shan