sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Compaixão

Uma vez, uma professora me disse que, se eu quisesse felicidade duradoura, a única maneira de consegui-la era sair do casulo. Quando lhe perguntei como trazer felicidade aos outros, ela disse: "Mesma instrução." Esta é a razão pela qual faço essas práticas de aspiração: a melhor maneira de servir a nós mesmos é amar e cuidar dos outros. Estas são ferramentas poderosas para dissolver as barreiras que perpetuam, não somente nossa própria infelicidade, mas o sofrimento de todos os seres.

Monja Pema Chödrön.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Outra tradição espiritual

Quando você está enraizado na sua própria tradição, tem muito melhores chances de compreender outra tradição. É como uma árvore com raízes. Ao ser transplantada, ela será capaz de absorver os nutrientes do novo solo. Uma árvore com poucas raízes não conseguirá extrair os elementos nutritivos.

Thich Nhat Hanh, em "Jesus e Buda - Irmãos". (Publicado no blog Sansara).

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O mestre ZEN que fazia chover


Aldeões pediram a um mestre ZEN que os ajudasse a levar chuva aos seus campos áridos.

O mestre solicitou apenas uma pequena casa com um jardim onde pudesse cultivar.

Dia após dia, ele cultivava o pequeno jardim, sem praticar nenhuma magia. Decorrido algum tempo, a chuva começou a cair sobre a terra ressecada.

Ao perguntarem como obtivera tamanho milagre, ele respondeu humildemente...

"A cada dia, ao cultivar o jardim, voltava-me mais para dentro de mim mesmo. Quanto à chuva, não sei a razão, mas tenho certeza que a terra do meu jardim já está preparada. E a de vocês?"

Conto Zen.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Um sentido pra vida

O homem precisa encontrar, aqui e agora, nas tarefas comuns, ordinárias e humildes, nos problemas humanos de cada dia, o sentido útil de sua existência.

[...] é a libertação, precisamente, da desordenada autoconsciência que tem de si e da monumental atenção ao seu eu, da obsessão com a auto-afirmação. Só assim poderá o homem saborear a liberdade, conseqüência da despreocupação que acompanha o fato de ser ele simplesmente o que é, aceitando as coisas como são, de maneira a colaborar com elas, do melhor modo que lhe for possível.

Creio que o Zen muito tem a dizer não somente ao cristão, mas também ao homem moderno. É algo de não doutrinal, é concreto, direto, existencial e procura, acima de tudo, enfrentar a vida no próprio âmago – não com idéias sobre a vida e, ainda menos, com plataformas políticas, religiosas, científicas ou qualquer outra coisa do gênero.

MERTON, Thomas. * Zen e as Aves de Rapina *.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

AFIANDO A LÂMINA

As derrotas, perdas e infortúnios, servem para manter afiada a lâmina da espada do guerreiro!

Levante-se! Encare o seu inimigo e os desafios!

Agora que sua espada está afiada, é hora de trabalhar!

Postado no blog Livro do Guerreiro.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

NADA EXISTE FORA DO AGORA

Toda a essência do Zen consiste em caminhar ao longo do fio da navalha do Agora - estar tão absolutamente e tão completamente presente que nenhum problema, nenhum sofrimento, nada que não seja quem você é na sua essência possa sobreviver em si. No Agora, na ausência do tempo, todos os seus problemas se desfazem. O sofrimento precisa do tempo; não pode sobreviver no Agora. Muitas vezes, para afastar do tempo a atenção dos seus estudantes, o grande mestre Zen, Rinzai, costumava levantar um dedo e perguntar lentamente: "O que é que está faltando neste momento?" Uma pergunta extraordinária que não exige uma resposta ao nível da mente. Destina-se a atrair fortemente a sua atenção para o Agora. Uma outra pergunta semelhante na tradição Zen é a seguinte: "Se não agora, quando?"

Partição do texto publicado em "Saindo da Matrix".

sábado, 23 de fevereiro de 2008

O PODER DO AGORA

"A maior parte da dor humana é desnecessária. Cria-se a si própria enquanto for a mente inobservada a dirigir a vida. A dor que tu criares agora será sempre uma certa forma de não aceitação, uma certa forma de resistência inconsciente àquilo que é. Ao nível emocional, é uma certa forma de negatividade. A intensidade da dor depende do grau de resistência ao momento presente, e esta por seu lado depende de quão fortemente estiveres identificado com a tua mente. A mente procura sempre recusar o Agora e escapar dele. Por outras palavras, quando mais identificado estiveres com a tua mente, mais sofrerás. Ou poderás colocar a questão deste modo: quando mais honrares e aceitares o Agora, mais livre estarás da dor, do sofrimento - e livre da mente egoica.

Porque é que a mente recusa ou resiste habitualmente ao Agora? Porque ela não consegue nem funcionar nem ficar no comando sem tempo, que é passado e futuro, e por conseguinte para ela o Agora representa uma ameaça. De fato, o tempo e a mente são inseparáveis. (...) A mente para garantir que continua no comando, procura constantemente a encobrir o momento presente com o passado e o futuro e, assim, ao mesmo tempo que a vitalidade e o infinito potencial criativo do Ser, que é inseparável do Agora, começam a ficar pelo tempo, também a tua verdadeira natureza começa a ficar encoberta pela mente.

Um fardo de tempo, cada vez mais pesado, tem vindo a acumular-se na mente humana. Todos os indivíduos sofrem sob esse fardo, mas também continuam a somar-lhe todos os momentos, sempre que ignoram ou recusam esse precioso Agora ou o reduzem a um meio para alcançarem um determinado momento futuro, o qual só existe na mente e nunca na atualidade. A acumulação de tempo na mente humana, coletiva e individual, contém igualmente uma enorme quantidade de dor residual que vem do passado."

Tolle, Eckhart, "O Poder do Agora".

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

COMO CHEGAR AO NIRVANA?

Quem quer chegar ao nirvana é o ego. É impossível, mas ele quer. E não tem nada de errado nisto. O ego é seu personal trainer 25 horas por dia, logo, ao buscar o nirvana, está apenas cumprindo a função dele com perfeição: submeter você (espírito) ao vestibular da ilusão. Então, no começo da busca espiritual, identificado com o ego, você fica tentando entender (raciocinar) o que é espiritualidade. E fazer isto é colocar rótulos dualistas: ego, espírito, deus, nirvana, ilusão, consciente, inconsciente, voluntário, direto, conhecimento, intuição, etc.

Postado no blog: Pegando Buda pra Cristo.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

ALÉM DA LINGUAGEM

A linguagem utilizada pelo Pensamento Zen é, portanto, em certo sentido, uma antilinguagem. E a “lógica” do Zen é o inverso radical da lógica filosófica. O dilema humano da comunicação está no fato de que não podemos nos comunicar ordinariamente sem palavras e sinais, mas, mesmo a experiência ordinária tende a ser falsificada pelos hábitos de verbalização e racionalização. Os instrumentos convenientes da linguagem nos permitem decidir de antemão o que pensamos que as coisas significam, e constituem uma tentativa para vermos as coisas apenas de um modo que se enquadre em nossos preconceitos lógicos e fórmulas verbais. Em lugar de ver as /coisas /e os /fatos/ como realmente são, nós os vemos como reflexos e verificações de sentenças que previamente construímos em nossas mentes. Esquecemos com muita rapidez como simplesmente /ver/ as coisas, substituindo nossas palavras e fórmulas de maneira a vermos somente o que se enquadra convenientemente em nossos PRÉ-conceitos. O Zen utiliza a linguagem contra a própria linguagem, para fazer estourar tais PRÉ-conceitos e destruir a enganadora “realidade” existente em nossas mentes, para que possamos /ver diretamente/. O Zen diz, como Wittgenstein dizia, “Não pense: olhe!” "Não cogite: perceba!"

MERTON, Thomas. * Zen e as Aves de Rapina *.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

"O homem é condenado a ser livre"

Com essa afirmação vemos o peso da responsabilidade por sermos totalmente livres. E, frente a essa liberdade irrestrita, o ser humano se angustia, pois a liberdade implica em fazer escolhas, as quais só o próprio indivíduo pode fazer. Muitos de nós ficamos paralisados e, dessa forma, nos abstemos de fazer as escolhas necessárias. Porém, a "não ação", o "nada fazer", por si só, já é uma escolha; a escolha de não agir. A escolha de adiar a existência, evitando os riscos, a fim de não errar e gerar culpa, é uma tônica na sociedade contemporânea. Arriscar-se, procurar a autenticidade, é uma tarefa árdua, uma jornada pessoal que o ser deve empreender em busca de si mesmo.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Existencialismo

Jean-Paul Charles Aymard Sartre (1905 – 1980)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Tal como o oceano produz ondas

“Nós não viemos a este mundo:

viemos dele, como as folhas de uma

árvore. Tal como o oceano produz ondas,

o Universo produz pessoas. Cada indivíduo

é uma expressão de todo o reino da natureza,

uma ação singular do Universo total.

Raramente este fato é, se é que alguma

vez chega a ser, sentido pela maioria

dos indivíduos.”

Alan Watts.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Desejamos sempre algo a mais

Há fome por pão comum, e há fome por amor, por bondade, por atenção (consideração), e esta é a grande pobreza que faz as pessoas sofrerem tanto.

Madre Teresa de Calcutá.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Em defesa do “não apego”

O primeiro e principal exercício, o que conduz de imediato às portas do bem, consiste, quando uma coisa nos prende, em considerar que ela não é daquelas que não nos podem ser tiradas; que ela é como um vaso, ou uma taça de cristal, que quando se quebra não nos perturba porque lembramos o que ela é em sua natureza. O mesmo acontece aqui: se abraças um filho, um irmão ou um amigo, não te abandone sem reservas à imaginação... que mal existe em murmurar entre dentes, enquanto se abraço o filho: “Amanhã ele morrerá?”

Epicteto (Entretiens, III, 84 ss.)

Compreenda bem o que Epicteto quer dizer: não se trata absolutamente de ser indiferente, muito menos de faltar aos deveres que a compaixão pelos outros nos impõe, em especial por aqueles que amamos. Nem por isso podemos deixar de desconfiar como da própria sombra dos apegos que nos fazem esquecer que tudo na vida é impermanente, o fato de que nada é estável neste mundo, que tudo muda e passa e que não compreender isso é preparar para si próprio os horríveis tormentos da nostalgia e da esperança. É preciso saber contentar-se com o presente, amá-lo o bastante para não desejar nada além dele, nem lamentar o que quer que seja. A razão que nos guia e nos convida a viver a natureza cósmica, deve ser então purificada dos sedimentos que a sobrecarregam e falsificam, assim que ela se perde nas dimensões irreais do tempo: o passado e o futuro.

Extraído do livro: Aprender a Viver de Luc Ferry – Escritor, filósofo e ex-ministro da educação na França.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

O estado desperto


O estado desperto está oculto em todos. Se está oculto é porque inconscientemente não permitimos que ele surja. O homem fechado, o egoísta enrolado em torno de um “EU” ilusório, é como um casulo que ainda não sonha que poderá ser borboleta. E como casulo geralmente morrerá. Perdendo a oportunidade da transfiguração.

Extraído do livro “ZEN e as Aves de Rapina” de Thomas Merton.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Verdade absolutas

"Não há fatos eternos, assim como não há verdades absolutas".

Friedrich Nietzsche.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Solidão

"Se você sente solidão quando a sós, então é porque estás em má companhia".

Jean-Paul Sartre

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Alimentar o ódio, pra quê?

"O ódio nunca desaparece, enquanto pensamentos de mágoas forem alimentados na mente. Ele desaparece, tão logo esses pensamentos de mágoa forem esquecidos".

Buddha.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

O dia de hoje

Não te preocupes com o dia de amanhã, porque o amanhã trará consigo o que é seu. Bem basta os problemas que cada dia traz no seu regaço.

S. Mateus.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

O espelho tudo revela

“O espelho é totalmente despersonalizado e de razão. Se surge diante dele uma flor, ele a reflete, se é um pássaro, ele também o reflete. O belo diante dele é belo, o feio nos aparece como feio. Tudo ele revela como de fato o é. Não possui poder de discriminação, nem consciência própria. Se alguma coisa se aproxima, ele a reflete; quando se afasta, ele se limita a deixar que o objeto se afaste... sem que fique um só vestígio. Essa total indiferença, essa ausência mental, ou a livre existência do espelho, pode ser aqui comparada à pura e lúcida sabedoria de Buda”.

O Problema é que, enquanto se tem o hábito de distinguir, julgar, categorizar e classificar – está-se sobrepondo algo à pureza do espelho. Estamos filtrando a luz através de um sistema como se estivéssemos convencidos de que isso tornaria mais clara a luz.

Extraído do livro “Zen e as Aves de Rapina” de Thomas Merton.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

"Pensar sem pensamentos"...

Quando praticamos a compreensão correta e o pensamento correto, aprendemos a viver no momento presente, entrando em contato com as sementes da alegria, da paz e da libertação, curando e transformando nosso sentimento, e aprendendo a estar disponível para os outros.

Thich Nhat Hanh, em "A essência dos ensinamentos de Buddha.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Schopenhauer e a Filosofia

[...] Também podemos basear nosso argumento no próprio nome dado pelo filósofo ao seu cão: ‘Atma'.

A distinção realizada por Kant entre a coisa-em-si (numenon) e o que se mostra (phainomenon) é um dos pontos de partida para a filosofia de Schopenhauer.

Somos limitados pelo nosso aparato cognitivo (sentidos, mente e inteligência) que apenas apreêndem a realidade de um determinado jeito, sob uma série de categorias. A verdade do mundo nunca se mostra inteiramente, e mesmo se se mostrasse, nós não a perceberíamos em sua plenitude. Com este movimento Kant pretendeu mostrar que os objetos de estudo da metafísica, Deus, existência da alma etc, estão além da capacidade cognitiva dos homens. Pela razão não podemos chegar a um conhecimento seguro sobre tais objetos. Em Schopenhauer isto também se aplica, de certa forma, mas suas reflexões são bastante diferentes das de Kant, e ele chegou a escrever um livro sobre as diferenças de seus sistemas filosóficos. Sua pretensão foi mais longe ao buscar meios pelo qual o sujeito, àquele que percebe os objetos do mundo e de sua mente, pudesse por alguma maneira acessar a coisa em si, a essência do mundo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

O significado das bananas

Um amigo meu conta que, certa vez, resolveu passar algumas semanas num mosteiro do Nepal. Certa tarde entrou num dos muitos templos do mosteiro, e encontrou um monge, sorrindo, sentado no altar.

“Por que o senhor sorri?”, perguntou ao monge.

“Porque entendo o significado das bananas”, disse o monge, abrindo a bolsa que carregava, e tirando uma banana podre de dentro. “Esta é a vida que passou e não foi aproveitada no momen­to certo - agora é tarde demais”.

Em seguida, tirou da bolsa uma banana ainda verde, mostrou-a, e tornou a guardá-la.

“Esta é a vida que ainda não aconteceu, é preciso esperar o momento certo”, disse.

Finalmente, tirou uma banana madura, descascou-a, e dividiu-a com meu amigo. “Este é o momento presente. Saiba vivê-lo sem medo”.

Conto postado no blog Paulo Coleho.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

A política de Confúcio (551-479 a.C.)

Zizhang procurou Confúcio por toda a China. O país vivia um momento de grande convulsão social, e ele temia derramamento de sangue.

Encontrou o mestre junto de uma figueira, meditando.

“Mestre, precisamos urgente de sua presença no governo”, disse Zizhang. “Estamos a beira do caos”.

Confúcio continuou meditando.

“ Mestre, ensinaste que não podemos nos omitir:, continuou Zizhang. “Disseste que somos responsáveis pelo mundo”.

“Estou meditando pelo país”, respondeu Confúcio. “Depois irei ajudar um homem que está de fato precisando de auxílio. Fazendo o que está ao nosso alcance, beneficiamos a todos. Existem mil maneiras de ser fazer política; e necessariamente não é preciso ser parte do governo”.

Conto confucionista.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

ISTO TAMBÉM PASSARÁ

Havia, certa vez, um rei sábio e bom, que já se encontrava no fim de sua vida. Certo dia, pressentindo a chegada da morte, chamou seu único filho, que o sucederia no trono, tirou do dedo um anel e deu-o a ele dizendo:
- Meu filho, quando fores rei, leva sempre contigo este anel. Nele há uma inscrição. Quando estiveres vivendo situações extremas de glória ou de dor, tira-o e lê o que há nele.

E o rei morreu, e seu filho passou a reinar em seu lugar, sempre usando o anel que o pai lhe deixara. Passado algum tempo, surgiram conflitos com um reino vizinho, que acabaram culminando numa terrível guerra. O jovem rei, à frente do seu exército partiu para enfrentar o inimigo. No auge da batalha, seus companheiros lutavam bravamente; mortos, feridos, tristeza, dor, o rei lembra-se do anel; tira-o e lê a inscrição:

ISTO TAMBÉM PASSARÁ.

E ele continua a luta. Perde batalhas, vence outras tantas, mas ao final, sai vitorioso. Retorna, então, ao seu reino e, coberto de glória, entra em triunfo na cidade. O povo o aclama. Neste momento ele se lembra do seu velho e sábio pai. Tira o anel e lê:

ISTO TAMBÉM PASSARÁ.

"Tudo é impermanente. Tudo que está sujeito ao surgimento está sujeito à cessação".
(Buda)

A compreensão da impermanência nos proporciona confiança, paz e alegria. A impermanência não conduz obrigatoriamente ao sofrimento. Sem ela, a vida não existiria. Sem a impermanência, sua filha não cresceria e se tornaria uma linda mulher. Sem a impermanência, os regimes políticos opressivos nunca mudariam. Mas nós achamos que a impermanência nos faz sofrer. O Budha deu o exemplo do cachorro que foi atingido por uma pedra e ficou zangado com a pedra. Não é a impermanência que nos faz sofrer, mas sim o desejo de que as coisas sejam permanentes, quando na verdade não são.
(Thich Nhat Hanh; The Heart of the Buddha's Teaching)

Algumas pessoas acham que o budismo é pessimista, sempre falando de morte, impermanência, velhice - mas isso não é necessariamente verdade. A impermanência é um alívio! Eu não tenho uma BMW hoje e é graças à impermanência desse fato que eu posso vir a ter uma amanhã. Sem a impermanência eu ficaria preso à não-posse de uma BMW e nunca poderia vir a ter uma. Eu posso estar me sentindo muito deprimido hoje e, graças à impermanência, amanhã eu posso estar me sentindo ótimo. A impermanência não é necessariamente uma má notícia; tudo depende de como a interpretamos e a compreendemos. Mesmo que hoje nossa BMW seja riscada por um vândalo ou que nosso melhor amigo nos deixe na mão, não vamos ficar tão preocupados assim. Quando não reconhecemos que toda coisa composta é impermanente, isso é um engano, uma ilusão. Quando compreendemos isso - e não só intelectualmente - ficamos livres desse engano. É a isso que chamamos de libertação: ficar livre da crença unidirecionada e bitolada de que as coisas são permanentes. E tudo na vida é assim, quer gostemos disso ou não. Ela tem um começo, tem um fim, tem um meio.
(Dzongsar Khyentse Rinpoche; Os Quatro Selos do Dharma)

Referência: Dharmanet.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

A CAVERNA DE PLATÃO (428-348 a.C.)




Imagine um grupo de pessoas que habita o interior de uma caverna subterrânea, estando todas de costas para a entrada da caverna e acorrentadas, de sorte que tudo o que vêem é a parede da caverna. Atrás delas ergue-se um muro alto e por trás desse muro passam figuras de formas humanas sustentando outras figuras que se elevam para além da borda do muro. Como há uma fogueira queimando atrás dessas figuras, elas projetam sombras na parede da caverna. Assim, a única coisa que as pessoas da caverna podem ver é este “teatro de sombras”. E como essas pessoas estão ali desde que nasceram, elas acham que as sombras que vêem são a única coisa que existe. Imagine agora que um desses habitantes da caverna consiga se libertar daquela prisão. Primeiramente ele se pergunta de onde vêm aquelas sombras projetadas na parede da caverna. Depois consegue se libertar dos grilhões que o prendem. E o que acontece quando ele se vira para as figuras que se elevam para além da borda do muro? Primeiro, a luz é tão intensa que ele não consegue enxergar nada. Depois, a precisão dos contornos das figuras, de que ele até então só vira as sombras, ofusca a sua visão. Se ele conseguir escalar o muro e passar pelo fogo para poder sair da caverna, terá mais dificuldade ainda para enxergar devido à abundância de luz. Mas depois de esfregar os olhos, ele verá como tudo é bonito. Pela primeira vez verá cores e contornos precisos; verá animais e flores de verdade, de que as figuras na parede da caverna não passam de imitações baratas. Suponhamos, então, que ele comece a se perguntar de onde vêm os animais e as flores. Ele vê o Sol brilhando no céu e entende que o Sol dá vida às flores e aos animais da natureza, assim como também era graças ao fogo da caverna que ele podia ver as sombras refletidas na parede. Agora, o feliz habitante das cavernas pode andar livremente pela natureza, desfrutando da liberdade que acabara de conquistar. Mas as outras pessoas que ainda continuam lá dentro da caverna não lhe saem da cabeça. E por isso ele decide voltar. Assim que chega lá, ele tenta explicar aos outros que as sombras na parede não passam de trêmulas imitações da realidade. Mas ninguém acredita nele. As pessoas apontam para a parede da caverna e dizem que aquilo que vêem é tudo o que existe; é a única verdade que existe; é a realidade. Por fim, acabam matando aquele que retornou para dizer-lhes um monte de "mentiras". Platão, República, Livro 7

(adaptações: Paulo A. Duarte - Professor do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Santa Catarina)

REFLEXÃO:
Por meio desta parábola, relatada por Platão, podemos refletir um pouco acerca do que entendemos por realidade. Será que a realidade em que vivemos, não passa de “sombras” que se apresentam na nossa frente? Será que nossas verdades se resumem apenas ao que percebemos com nossos cinco sentidos? Não seria apenas aparência? Quando acreditamos apenas no que conseguimos ver, ficamos dentro das muralhas de nossa existência, de nossos sentidos, percepções, conceitos e preconceitos. É O que
É uma espécie de prisão, escreveu Platão. Precisamos tomar cuidado para não aniquilarmos prematuramente o que ainda não vemos. Pode ser que se perca uma ótima oportunidade de ampliar nossos conhecimentos. Acreditar nas "sombras" é um péssimo hábito que, infelizmente, está muito presente também no mundo de hoje.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

MINHA VIDA E A DOS OUTROS SÃO ORIGINALMENTE UMA SÓ

Quando fazemos o bem ao nosso próximo e vemos que ele ficou feliz, sentimo-nos felizes também. É que somos todos irmãos, ramificações de uma mesma vida, parte de um todo, isto é, da vida do cosmos ou de Deus (como queira chamar), que flui para dentro de nós e mantém a nossa vida. Portanto, a alegria de fazer o bem ao próximo é a do reencontro e união das partes que, apenas na aparência, achavam-se separadas.

- Do livro, A Verdade da Vida - Masaharu Taniguchi.

domingo, 3 de fevereiro de 2008

A LÓGICA DE EINSTEIN

A vida é como jogar uma bola na parede:
Se for jogada uma bola azul, ela voltará azul;
Se for jogada uma bola verde, ela voltará verde;
Se a bola for jogada fraca, ela voltará fraca;
Se a bola for jogada com força, ela voltará com força.
Por isso, nunca "jogue uma bola na vida" de forma
Que você não esteja pronto a recebê-la.
A vida não dá nem empresta;
não se comove nem se apieda.
Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir
Aquilo que nós lhe oferecemos.

(Albert Einstein)

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Uma coisa de cada vez

Certa vez, muito intrigado, um discípulo abordou seu velho mestre:

- Como o senhor, de idade tão avançada, parece ainda mais novo que nós? Como pode estar sempre tão bem disposto e alegre?

A resposta veio em seguida, mas naquele tom calmo, comum aos sábios, ondulante e com todas as pausas:

- Quando eu como, eu como. Quando eu durmo, eu durmo.

Essa pequena história, de nobre mas desconhecida origem oriental, nos dá pistas para investigar um tema que muito nos interessa nos dias de hoje: a dificuldade que temos ao tentar fazer uma coisa de cada vez.

"Uma das principais causas de fracasso no mundo é a falta de concentração. A atenção é como a luz de uma lanterna: quando seus raios são espalhados em uma área vasta, sua habilidade de focalizar um único objeto se torna fraca, mas se focalizado em uma coisa de cada vez, torna-se poderosa. Grandes homens são os de concentração: eles investem todo o poder mental em uma coisa de cada vez". Paramahansa Yogananda, filósofo oriental hindu.

Não abra mão de nada no mundo; de nenhuma das frutas à disposição na árvore da vida, bem à nossa frente. Mas nunca tente apanhá-las nem saboreá-las todas ao mesmo tempo. Uma de cada vez, ou o engasgo será inevitável.

O físico nos informa que a mesma energia aplicada a dois trabalhos vai provocar sua dispersão. O bioquímico diz que um receptor da membrana de uma célula não receberá dois estímulos químicos ao mesmo tempo. O psicólogo sinaliza para o fato de que dois esforços mentais simultâneos provocarão ansiedade e estresse. E o poeta, o que diz o poeta? Lembro-me de Ascenso Ferreira, em "Filosofia":

Hora de comer - comer!

Hora de dormir - dormir!

Hora de vadiar - vadiar!

Hora de trabalhar?

- Pernas pro ar que ninguém é de ferro!

Partição da matéria: Uma Coisa de Cada Vez, extraída da revista Vida Simples, julho/2003.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

A esperança como obstáculo

A esperança é importante por poder tornar o momento presente mais suportável. Se acreditarmos que amanhã tudo será melhor, podemos encarar a adversidade hoje. Isso é, porém, o máximo que a esperança pode fazer por nós – tornar mais leve as agruras. Quando penso profundamente sobre a natureza da esperança, vejo algo de trágico. Por nos agarrarmos a uma esperança no futuro, não concentramos nossas energias e nossa capacidade no momento presente. Usamos a esperança para acreditar que algo melhor irá acontecer no futuro, que alcançaremos paz, ou o reino de Deus. A esperança passa a ser um obstáculo. Se você conseguir se abster da esperança, poderá se dedicar totalmente ao momento presente e descobrir a alegria que já está aqui.

A luz, a paz e a alegria não podem ser concedidas pelos outros. O poço está em nosso intimo e, se cavarmos o suficiente no momento presente, a água jorrará. Precisamos voltar ao momento presente para que estejamos realmente vivos. Quando praticamos a respiração consciente, estamos praticando a volta ao momento presente, no qual tudo está acontecendo.

A civilização ocidental empresta tanta ênfase à idéia da esperança que acabamos sacrificando o momento presente. A esperança é para o futuro. Ela não pode nos ajudar a descobrir a alegria, a paz e a luz no momento presente. Muitas religiões se baseiam no conceito de esperança, e essa recomendação no sentido de evitá-la pode provocar uma forte reação. Esse choque pode, no entanto, produzir algo importante. Não estou dizendo que não devemos ter esperança, mas que a esperança não basta. Ela pode criar um obstáculo pra você e, se estiver imerso na energia da esperança, não conseguirá voltar por inteiro para o momento presente. O que seria uma lástima. Se você canalizar esta energia para uma conscientização do que está ocorrendo, no momento presente, será capaz de romper com tudo e descobrir a alegria e a paz exatamente no momento presente, dentro de si mesmo e em tudo à sua volta.

A. J. Muste, líder do movimento pacifista em meados do século XX nos Estados Unidos, que inspirou milhares de pessoas, disse uma vez, "Não há caminho para paz. A paz é o caminho." Essa frase nos diz que podemos concretizar a paz aqui e agora com nosso olhar, nosso sorriso, nosso pensamento, nossas palavras e nossos atos. O trabalho pela paz não é um meio. Cada passo que damos deveria ser a paz. Cada passo que damos deveria ser a alegria. Cada passo que damos deveria ser a felicidade. Se tivermos determinação, podemos fazê-lo. Não precisamos do futuro. Podemos sorrir e relaxar. Tudo que desejamos está aqui no momento presente.

Extraído do livro "Paz a cada Passo", de THICH NHAT HANH.