quinta-feira, 31 de julho de 2008

DESINTEGRAÇÃO DOS CARMAS

INFORTÚNIO É A MATERIALIZAÇÃO
E DESINTEGRAÇÃO DOS CARMAS.

Quando acontecer um infortúnio, devemos mentalizar: “Este infortúnio é apenas uma etapa no caminho para alcançar a felicidade” ou “Este infortúnio é um processo em que meus carmas do passado estão se materializando para se desintegrar em seguida. Sou grato, pois, desaparecendo os carmas, só poderá
vir a felicidade”.

Do livro Sabedoria da Vida Cotidiana, vol.1 – M. Taniguchi.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Se eu pudesse deixar algum presente a você...


“Se eu pudesse deixar algum presente a você, deixaria aceso o sentimento de amar a vida.

A consciência de aprender tudo o que foi ensinado pelo tempo afora.

Lembraria os erros que foram cometidos para que não mais se repetissem.

Daria a capacidade de escolher novos rumos, novos caminhos.

Deixaria, se pudesse, o respeito àquilo que é indispensável.

Além do pão, o trabalho.

Além do trabalho, a ação.

Além da ação o cultivo à amizade.

E, quando tudo mais faltasse, deixaria um segredo:

O de buscar no interior de si mesmo a resposta e a força para encontrar a saída”.


Gandhi.

Vá em paz Jôshin!

terça-feira, 29 de julho de 2008

A importância da fé

Será que acreditar em algo é o caminho para todas as suas aflições?

Monja Coen responde:

De repente as coisas não são como a gente queria que fossem e, diante de uma determinada circunstância, nossa reação é ficarmos bravas ou tristes e não acreditarmos em mais nada.

Mas justamente quando nos deparamos com esses incidentes é que é importante manter a fé, que na prática é traduzida como ter certeza de que há uma razão misteriosa para um fato específico acontecer, nos dando força para enfrentar a situação que temos pela frente.

Nós nem reparamos, porém nesse exato momento há um ser iluminado – disfarçado nas palavras dos amigos, no carinho que recebemos e na própria coragem que de uma hora para outra aparece em nós mesmos – a nos mostrar o Caminho. Portanto, acreditar é tudo..

Um jovem monge perguntou ao Mestre Joshu:
- O que eu sou?
O mestre disse:
- Você já acabou a refeição matinal?
- Sim, terminei - respondeu o monge
- Então vá lavar as tigelas.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Percorrer o caminho...

Dizer sim é uma forma de ”deixar estar”, “deixar ser” (let be), talvez um pouco diferente de “deixar ir” (let go). “Let be”, dar lugar a que as coisas sejam como são é por vezes interpretado como passividade ou mesmo indiferença, mas é realmente o contrário. Deixar estar, dizer sim, é uma abertura, é uma inclusão, é estar pronto para agir quando for necessário. E a não-agir. Para além da prática a que Amy chamou “yes meditation” (meditação do sim), a sensei também propõe a prática dos koans. De uma certa forma, o koan não é propriamente exclusivo do budismo Zen. Qualquer sistema filosófico religioso contém koans, interrogações fundamentais que surgem naturalmente ao questionarmo-nos sobre a existência, sobre o sofrimento, a vida e a morte, e, sobretudo, sobre nós mesmos. A diferença está em que o Zen se atira “de cabeça” para o koan, ao mesmo tempo em que reformula a questão numa linguagem que freqüentemente desafia a lógica e o senso comum. Com a nossa mente racional, não conseguimos encontrar uma resposta para estas perguntas essenciais. Se conseguíssemos, já o teríamos feito e não estaríamos por aqui, à procura de sentido e de felicidade. Estas respostas surgem como intuições, momentos de abertura vindos de um lugar conhecido, mas que esquecemos. A pergunta é trabalhada tanto na meditação sentada como no dia-a-dia, com o pressuposto que quanto mais tentamos resolver o koan através do lado racional e analítico, mais nos afastamos da experiência.

Coleções de Koans: Zen Flesh, Zen Bones, de Paul Reps, Mumonkan e Hekiganroku.

domingo, 27 de julho de 2008

Não há nenhum lugar para onde fugir

Uma das coisas que te apercebes quando observas a natureza do eu é que aquilo que fazes e o que te acontece são a mesma coisa. Ao te aperceberes que não existes separadamente de tudo o mais, percebes o que é a responsabilidade: és responsável por tudo o que experimentas. Não podes voltar a dizer, “Ele enfureceu-me” Como é que ele pôde enfurecer-te? Só tu podes enfurecer-te. Compreender isto faz mudar o modo de te relacionares com o mundo e de lidares com a tensão. Então apercebes-te que a tensão, que em geral tem a ver com separação, é criada pelo processamento mental das tuas experiências. Sempre que surge uma ameaça, um contratempo, um entrave, a nossa reação imediata é rejeitar, é prepararmo-nos mentalmente ou fisicamente para lutar ou fugir. Se te tornas no bloqueio – no medo, na dor, na cólera – e o vives plenamente, sem julgares ou sem fugires, deixando-o ir, deixa então de haver bloqueio. Na realidade não há maneira de saíres dele; não podes fugir. Não há nenhum lugar para onde fugires, não há nada donde fugires: és tu.

John Daido Loori.

Happiness Is...


Tibetan Buddhist Music video by Singer Yungchen Lhamo.

Acenda uma vela pelo Tibete!
Na noite de 07 de agosto, véspera da abertura dos Jogos Olímpicos, junto à janela de sua casa, no trabalho ou em local público, às 21:00 horas...
(Mas faça isso com segurança para não provocar nenhum acidente!)
Convide a sua lista! Mais de 100 milhões no mundo acenderão! http://www.candle4tibet.org/pt/


Abaixo-assinado pela Libertação e o Fim da Violência no Tibete
www.tibet.vai.la (em português)

sábado, 26 de julho de 2008

O Caminho Zen

“A busca pelo verdadeiro caminho do ensinamento zen é para aqueles que conseguirem trilhar o caminho do desapego...” (mestre Dogen)

Ou seja, para viver trilhando o caminho zen, precisamos de desprendimento da ambição e da ganância de apenas obter status social e financeiro, praticando a humildade e a compaixão, não se deixando regrar por uma vida baseada simplesmente em ganhos e perdas. Ao conseguir desprender-se do apego material, a vida segue rumo num caminho harmônico e equilibrado... o caminho zen.

Dentro do universo zen, aprendemos a deixar de lado a superficialidade das aparências... indiferentemente do fato de alguém observar ou não nossas ações, independente se seremos elogiados ou não, sem esperar por algum benefício em troca de nossas ações... simplesmente fazemos o que há a ser feito.

Num templo, o mestre desperta, e seu discípulo traz-lhe um bacia com água fresca. Ao lavar seu rosto, o discípulo já o aguarda com uma toalha... não houve ordem ou pedido, assim como não houve palavras... apenas o encontro de sentimentos. O discípulo desprendeu-se do “eu” egocêntrico e apenas colocou-se no lugar de uma outra pessoa (que, por acaso, era seu mestre...). O mestre, por sua vez, humildemente aceitou a gentileza de seu discípulo. O mesmo acontece num ambiente familiar... Acordamos, e a mãe já colocou o café-da-manhã na mesa... abrimos o armário, e a roupa está lavada e passada... a mãe, ou quem o fez, simplesmente o fez. São ações tão cotidianas, mas que muitas vezes nem nos damos conta de quanto estas pequenas coisas são parte essencial de nossa vida. Quando nos damos a chance de perceber, então é o momento em que as emoções se encontram... a sensibilidade apura a percepção, daí surge o sentimento de gratidão e o verdadeiro entendimento.

Saber dar o devido reconhecimento pelas ações alheias, poder alegrar-se do fundo do coração com o sucesso alheio, sem se deixar tomar pela inveja... é praticar a compaixão e inspirar um aprendizado de valor imensurável. Não deixemos que sentimentos mesquinhos nos impeçam de perceber a preciosidade de pequenas ações e o valor que elas têm em nossas vidas e nas daqueles que estão ao nosso redor.

Texto: Koichi Miyoshi, tradução de Cristina Izumi Sagara.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

As aparências e o vazio

"Uma árvore em flor fica despida e despojada de suas folhas no outono. A beleza transforma-se em feiúra, a juventude transforma-se em velhice e os erros, em virtude. As coisas não permanecem sempre as mesmas e nada existe realmente. Portanto, as aparências e o vazio existem de forma simultânea."

(Dalai Lama, O Livro de Dias, Sextante)

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Sexto Sentido

A diferença entre os olhos e as faculdades da mente, é que os sentidos percebem o mundo de cores e formas visíveis, enquanto os objetos sentidos no mundo das idéias e pensamentos são mentais. Temos experiências em diferentes áreas na percepção do mundo com diferentes sentidos. Nós não podemos ouvir cores, mas nós podemos vê-los. Também não podemos ver sons, mas podemos ouvi-las. . . . O que da idéias e pensamentos? Eles são também uma parte do mundo. Mas eles não podem ser detectados, eles não podem ser concebidos pela faculdade da visão, audição, olfato ou gustação. Não obstante, eles podem ser concebidos por outro corpo docente, que está pensando. Agora, idéias e pensamentos não são independentes do mundo, vividas por estas cinco faculdades físicas dos sentidos. Na verdade, dependem e estão condicionadas por experiências físicas. Daí nasce uma pessoa cega que não pode ter idéias de cor, salvo mediante a analogia de sons ou de algumas outras coisas experimentadas através de suas outras faculdades. Idéias e pensamentos que representam uma parte do mundo são produzidos e assim, condicionados por experiências físicas e são concebidas com a mente. Daí mente é considerada um sentido ou órgão com faculdade, como visão ou com audição?

--Walpola Rahula in What the Buddha Taught
from Everyday Mind, edited by Jean Smith, a Tricycle book

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Versos Diários

(do Zen, para manter a plena consciência naquilo que se está fazendo)

No sanitário:
Possam todos os seres
Eliminar as impurezas
Removendo a Ganância
a Raiva e a Ignorância

Lavando o Rosto:
Ao lavar o rosto com água,
Possamos com todos os seres
Desanuviar nossa visão
E compreender o Dharma

Escovando os dentes:
Ao pegar a escova de dentes
Que todos os seres se beneficiem
Possam todos os seres,
Realizar o Dharma correto
Esmagando as ilusões

Lavando as Mãos:
Ao lavar as mãos com água,
Possam todos os seres adquirir mãos
Hábeis e sutis para sustentar o Dharma

Ao tomar banho
Que possamos com todos os seres
Purificar corpo e mente
Limpos externa e internamente

Dormir
Ao dormir esta noite
Que possamos com todos os seres
Pacificar todas as coisas
Tornando a mente pura e sem mácula

terça-feira, 22 de julho de 2008

Microcosmos

Se abrirmos os olhos e olharmos para o universo, observaremos o sol, a lua, as estrelas no céu, montanhas, rios, plantas, animais, peixes, aves sobre a terra. Frio e calor manifestam-se alternadamente; o brilhar do sol muda com a chuva, de um momento para outro, sem nunca chegar a um fim. Mais uma vez, vamos fechar os olhos e calmamente refletir sobre nós mesmos. De manhã à noite, nós estamos com a nossa mente demasiadamente agitada pelos sentimentos de prazer e dor, amor e ódio; às vezes cheios de ambição e de vontade, às vezes chamado de grande emoção da razão e da vontade. Assim, a ação da mente é como uma questão infindável de uma nascente d’água. Tal como os fenômenos do mundo externo são diferentes e maravilhosas, assim como é a atitude interna da mente humana. Vamos pedir a explicação destes fenômenos maravilhosos? . . . Porque é que a mente é submetida à constante agitação? Para isto, o zen oferece apenas uma explicação, ou seja, a lei de causa e efeito. . . .

--Soyen Shaku in Tricycle: The Buddhist Review, Summer 1993.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Jesus e Buda, Irmãos

Desde o século passado que estudiosos apontam algumas semelhanças entre os ensinamentos de Buda e Jesus.

Buda: É mais fácil ver os erros dos outros que os próprios; é muito difícil enxergar os próprios defeitos. Espalham-se os defeitos dos outros como palha ao vento, mas escondem-se os próprios erros como um jogador trapaceiro"

Jesus: Por que olhas o cisco no olho de teu irmão e não vês a trave no teu? Como ousas dizer a teu irmão: 'Deixa-me tirar o cisco de teu olho, pois sei corrigir teu erro de visão'? Hipócrita, tira primeiro o engano de tua visão, e só então poderás tirar o cisco de teu companheiro".

Buda: "Não importa o que um homem faça, se seus atos servem à virtude ou ao vício, tudo é importante. Toda ação acarreta frutos".

Jesus: "Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar bons frutos. Porventura colhem-se figos de espinheiros ou ervas de urtigas? Toda árvore se conhece pelos frutos".

Buda: A pessoa má fala com falsidade, acorrentando os pensamentos às palavras. Aquele que fala mal e rejeita o que é verdadeiramente justo não é sábio".

Jesus: O homem bom tira coisas boas do tesouro do coração, e o mau retira coisas más, pois a boca fala do que está cheio o coração".

Buda: Assim como a chuva penetra numa casa mal coberta, também a paixão invade uma mente dispersa. Assim como a chuva não penetra numa casa bem coberta, igualmente a paixão não invade uma mente bem formada".

Muitas outras analogias ainda mais ricas seriam possíveis. Remeto o leitor ao livro "Jesus e Buda, Irmãos", do mestre zen Thich Nhat Hanh para um estudo mais aprofundado. Um diálogo inter-religioso. Nele, Jesus e Buda se sentam e conversam sobre as orações e os rituais mútuos. Perguntam como um pode ajudar a renovar as tradições do outro. Analisam os pontos comuns em conceitos como o renascimento e a prática da conscientização.

sexta-feira, 18 de julho de 2008

A TRADIÇÃO DO CHÁ



O chá é a segunda bebida mais consumida no planeta, logo depois da água. Cada cultura tem seus próprios costumes envolvendo o chá. Os japoneses, por exemplo, consideram o chá muito importante e criaram a Cerimônia do Chá, ou Chanoyu, como uma celebração ritualista da bebida. Muitos norte-americanos bebem chá gelado e os que moram no sul dos EUA são famosos por consumirem grandes quantidades de chá doce. A "hora do chá" ou o "chá da tarde" é uma parte indispensável da sociedade inglesa e vários livros e filmes imortalizaram essa prática como uma tradição britânica.

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Verdadeira regeneração

Ryokan devotou sua vida ao estudo do Zen. Um dia ele ouviu que seu neto, a despeito das advertências de sua família, estava gastando seu dinheiro com uma prostituta. Uma vez que o neto tinha substituído Ryokan na responsabilidade de gerenciar os proventos da família, e os bens desta portanto corriam risco de serem dissipados, os parentes pediram a Ryokan fazer algo.

Ryokan teve que viajar por uma longa estrada para encontrar seu neto, o qual ele não via há muitos anos. O neto ficou grato por encontrar seu tio novamente e o convidou a pernoitar em sua casa. Por toda a noite Ryokan sentou em meditação. Quando ele estava partindo na manhã seguinte ele disse ao jovem: "Eu devo estar ficando velho, minhas mãos tremem tanto! Poderia me ajudar a amarrar minha sandália de palha?"

O neto o ajudou devotadamente. "Obrigado," disse Ryokan finalmente, "você vê, a cada dia um homem se torna mais velho e frágil. Cuide-se com atenção." Então Ryokan partiu, jamais mencionando uma palavra sobre a cortesã ou as reclamações de seus parentes.

Mas, daquela manhã em diante, o esbanjamento do seu neto terminou.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

O Agora


Um guerreiro japonês foi capturado pelos seus inimigos e jogado na prisão. Naquela noite ele sentiu-se incapaz de dormir pois sabia que no dia seguinte ele iria ser interrogado, torturado e executado.

Então as palavras de seu mestre Zen surgiram em sua mente:
"O "amanhã" não é real. É uma ilusão. A única realidade é "AGORA. O verdadeiro sofrimento é viver ignorando este Dharma".

Em meio ao seu terror subitamente compreendeu o sentido destas palavras, ficou em paz e dormiu tranqüilamente.

INTERSENDO

[...] Era o entardecer. Tudo estava silencioso a não ser por alguns pássaros. Vesti os hábitos formais, acendi um incenso de sandalo que trouxera, fiz um pouco de chá e enquanto o bebia lentamente puz-me a olhar para a palha de arroz que forrava o chão de todo o aposento.

De repente percebi o chão vivo. A palha de arroz era um grande arrozal. O vento balançava as longas hastes douradas. Foi tudo muito rápido, mas muito vívido. Pouco depois o chão voltou a ser a palha de arroz antiga, já um pouco desgastada pelos anos de uso, mas ainda em muito bom estado. Pensei em todas as pessoas que aqueles tatami suportaram e as que ainda servirão e senti uma grande reverência pelos campos de arroz. [...].

Texto extraído do original INTERSER, monja Coen Sensei.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Funeral festivo



O POVOADO DOS MOINHOS (Village of the Watermills)

No último conto de "SONHOS" (Akira Kurosawa), um viajante chega a uma pequena aldeia, e conversa com um homem idoso sobre um funeral festivo que irá ocorrer.

O filme trata também das tradições, e da importância de mantê-las, para a nossa própria sobrevivência e do planeta. Aborda a sabedoria dos mais velhos, e a simplicidade como forma de viver bem e melhor, em harmonia, sem agressão ao meio ambiente.

Com esse último sonho, após vermos o horror em imagens pungentes, Kurosawa nos leva de volta a um passado que também existe, ainda, em nosso inconsciente coletivo, com lições prontas a serem resgatadas hoje, sobre a transitoriedade de todas as coisas.

domingo, 13 de julho de 2008

A DANÇA CÓSMICA


"Neste momento, subitamente, apercebi-me intensamente do ambiente que me cercava: este se afigurava a mim como se participasse, em seus vários níveis rítmicos, de uma gigantesca dança cósmica. Eu sabia, como físico, que a areia, as rochas, a água e o ar ao meu redor eram constituídos de moléculas e átomos em vibração constante (...). Tudo isso me era familiar em razão de minha pesquisa com a Física de alta energia; mas até aquele momento, porém, tudo isso me chegara apenas através de gráficos, diagramas e teorias matemáticas. Mas, sentando na praia, senti que minhas experiências anteriores subitamente adquiriam vida. Assim, eu "vi" (...) pulsações rítmicas em que partículas eram criadas e destruídas (...) Nesse momento compreendi que tudo isso se tratava daquilo que os hindus, simbolicamente, chamam de A Dança de Shiva (...)".

"Eu passara por um longo treinamento em Física teórica e pesquisara durante vários anos. Ao mesmo tempo, tornara-me interessado no misticismo oriental e começara a ver paralelos entre este e a Física moderna. Sentia-me particularmente atraído pelos desconcertantes aspectos do Zen que me lembravam os enigmas da Física Quântica (...)".

Fritjof Capra em "O Tao da Física".

sábado, 12 de julho de 2008

É preciso jogar o lixo interior fora


Existe um lixo emocional: ele é produzido nas usinas de nosso pensamento, enquanto crescemos interiormente. São emoções que passaram por nossa vida e nos ajudaram - mas que não tem mais qualquer utilidade. São sentimentos que foram importantes no passado, - não no presente. São recordações de dor que nos amadureceram - e que agora não servem para nada.
Não podemos carregar este lixo: ele foi feito para ser jogado fora.
E, no entanto, apegados aos nossos sentimentos antigos, ficamos com pena deixá-los. Enchemos nosso porão espiritual com uma confusão de memórias inúteis, que ofuscam as nossas lembranças importantes.
Não procure sentir coisas que você não está sentindo mais. Não procure ser como você era. Você está mudando - permita que seus sentimentos lhe acompanhem.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

E na última hora...

O ritmo das nossas vidas é tão febril que a última coisa em que temos tempo de pensar é na morte. Abafamos nosso medo secreto da impermanência, cercando nossa vida de mais e mais bens, de mais e mais coisas, de mais e mais confortos, só para nos tornarmos escravos de tudo isso. Todo nosso tempo e energia se exaurem simplesmente para manter coisas. Nossa única meta na vida logo se torna manter tudo tão seguro e garantido quanto possível. Quando mudanças ocorrem, encontramos o remédio mais rápido, alguma solução astuta e temporária. E assim nossas vidas transcorrem, a menos que uma doença séria ou um desastre nos arranquem do nosso estupor.

Sogyal Rinpoche.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Torne-se um lago


O velho Mestre pediu a um jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal em um copo d’água e bebesse.
– Qual é o gosto? – perguntou o Mestre.
– Ruim – disse o aprendiz.
O Mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago.
Os dois caminharam em silêncio e o jovem jogou o sal no lago, então o velho disse:
– Beba um pouco dessa água.
Enquanto a água escorria do queixo do jovem, o Mestre perguntou:
– Qual é o gosto?
– Bom! – disse o rapaz.
– Você sente o gosto do sal? – Perguntou o Mestre.
– Não – disse o jovem.
O Mestre então sentou ao lado do jovem, pegou sua mão e disse:
– A dor na vida de uma pessoa é inevitável. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Então, quando você sofrer, a única coisa que você deve fazer é aumentar a percepção das coisas boas que você tem na vida.
Deixe de ser um copo. Torne-se um lago.

Conto Zen.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Conversando com Chagdud Rinpoche

Se queremos ajudar os outros a eliminar seus defeitos e desenvolver suas qualidades positivas, precisamos nos assegurar de que, primeiro, nós mesmos estejamos livres de defeitos e dotados de qualidades positivas. Mesmo que não estejamos totalmente isentos de defeitos, mesmo que não tenhamos revelado por inteiro todas as nossas qualidades positivas, devemos, pelo menos, ter purificado a nossa mente o suficiente para ajudar os outros, em vez de simplesmente criticá-la.

Por isso é tão importante examinarmos a nossa própria mente. Quando temos um pensamento negativo, ou mesmo um pensamento neutro, — um que não seja particularmente não-virtuoso —, precisamos tentar transformá-lo em virtuoso. Quanto mais redirecionamos a mente, mais sua expressão externa em palavras e ações se torna virtuosa. A raiz de todos os fenômenos do samsara e nirvana está na mente. Os estados mentais virtuosos e não-virtuosos são responsáveis pelo carma que leva ao sofrimento ou à felicidade.

Se repetidamente examinarmos nossos pensamentos, palavras e ações, e domesticamos a nossa mente, nossas deficiências começarão a diminuir e nossas qualidades positivas a crescer. Quanto mais se reduzirem nossos defeitos, mais irão se beneficiar as pessoas a nossa volta. Quanto mais forem incrementadas as nossas qualidades positivas, maior será nossa capacidade de ajudar os outros a cultivarem eles próprios essas qualidades.

Entrevista com S.E. Chagdud Tulku Rinpoche.

terça-feira, 8 de julho de 2008

"Trabalhar com todas as coisas"

Os pronunciamentos dharrna de Joko são modelos de uma simplicidade incisiva e de um senso comum perspicaz. Sua própria existência de lutas e crescimento e seus muitos anos de compaixão sensata em resposta aos traumas e às confusões de seus alunos originaram nela tanto uma espantosa capacidade de insight como a presença pedagógica de frases hábeis e imagens ricas. Seu ensinamento é bastante pragmático, menos voltado para a busca concentrada de experiências peculiares e mais dedicado ao desenvolvimento da compreensão relativa à totalidade da vida. Claramente ciente de que uma abertura espiritual intensa induzida de modo artificial não assegura uma vida organizada e compadecida (e pode inclusive ser prejudiciaI), Joko mantém uma distância cética em relação a todos os esforços musculares de superação das próprias resistências e diante de todos os atalhos para a salvação. Ela prefere um desenvolvimento mais lento, saudável e responsável da personalidade como um todo, no qual os obstáculos psicológicos são confrontados em vez de ignorados. Um de seus alunos, Elihu Genmyo Smith, reflete o modo como sua mestra pensa com a seguinte descrição:

"Existe uma outra forma de prática que chamo de "trabalhar com todas as coisas", incluindo as emoções, os pensamentos, as sensações e os sentimentos. Em vez de afastá-los ou mantê-los à distância com o uso da mente, tornando-a uma espécie de muro de ferro, e perfurar seu cerco com nosso poder de concentração, abrimo-nos para tais vivências. Desenvolvemos nossa percepção conscientes do que está ocorrendo a cada momento, de quais pensamentos estão surgindo e passando, de quais emoções estamos sentindo, e assim por diante. Em vez de uma concentração de foco estreito, a nossa é uma conscientização extensa.
O foco consiste em tornando-nos mais conscientes e despertos para o que está ocorrendo "dentro" e "fora"."

No sentar, sentimos o que é, e permitimos que isso prossiga, sem tentar contê-lo, analisá-lo, afastá-lo. Quanto mais enxergamos com nitidez a natureza de nossas sensações, nossas emoções e nossos pensamentos, mais seremos capazes de enxergar naturalmente através deles".

Agindo a partir de uma noção de igualdade, Joko considera-se mais uma guia do que um gurú, recusando-se a ser posta em qualquer pedestal. Em vez disso, partilha as próprias dificuldades existenciais, criando dessa forma um ambiente de trocas que fortalece, em seus alunos, a capacidade de buscar seu próprio caminho.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

RESPIRAÇÃO

Pergunta – Porque devemos nos concentrar tanto na expiração?

Resposta
– A absorção e a eliminação estão sempre em equilíbrio. Mas as condições da civilização moderna destroem os componentes deste equilíbrio: deseja-se sempre ter objetos, ter poder, ter o outro..., nunca se pensa em termos de ser. Até mesmo quando se está doente, fraco, triste ou concentrado sobre seu pequeno eu, presta-se atenção na inspiração e isto enfraquece ainda mais o organismo. É quando praticamos o oposto que podemos receber a verdadeira energia. Se a expiração for correta, a inspiração se faz automaticamente, inconscientemente. Este método de respiração é a chave da saúde e o segredo da longevidade.

Traduzido de Deshimaru, T. Mondo in La Pratique du Zen. Paris: Albin Michel, 1977. p.52.

sábado, 5 de julho de 2008

O Mosteiro Zen

Foto: Mosteiro Zen Morro da Vargem no ES.

Certo dia, num mosteiro zen-budista, com a morte do guardião, foi preciso encontrar um substituto. O grande Mestre convocou, então, todos os discípulos para descobrir quem seria o novo sentinela.

O Mestre, com muita tranqüilidade, falou: - Assumirá o posto o monge que conseguir resolver primeiro o problema que eu vou apresentar. Então ele colocou uma mesinha magnífica no centro da enorme sala em que estavam reunidos e, em cima dela, pôs um vaso de porcelana muito raro, com uma rosa amarela de extraordinária beleza a enfeitá-lo. E disse apenas: - Aqui está o problema!

Todos ficaram olhando a cena: o vaso belíssimo, de valor inestimável, com a maravilhosa flor ao centro! O que representaria? O que fazer?

Qual o enigma? Nesse instante, um dos discípulos sacou a espada, olhou o Mestre, os companheiros, dirigiu-se ao centro da sala e ...ZAPT!... destruiu tudo, com um só golpe.

Tão logo o discípulo retornou a seu lugar, o Mestre disse:
- Você é o novo Guardião. Não importa que o problema seja algo lindíssimo. Um problema é um problema, mesmo que se trate de uma mulher sensacional, um homem maravilhoso ou um grande amor que se acabou. Por mais lindo que seja ou tenha sido, se não existir mais sentido para ele em sua vida, deve ser suprimido.

Muitas pessoas carregam a vida inteira o peso de coisas que foram importantes no passado, mas que hoje somente ocupam espaço, se for um problema, precisa ser eliminado.

Conto Zen.

A sabedoria zen diz:

- Para você beber vinho numa taça cheia de chá, é necessário primeiro jogar o chá fora, para então beber o vinho.
Ou seja, para aprender o novo, é essencial desaprender o velho. Limpe a sua vida, comece pelas gavetas, armários até chegar às pessoas do passado que não fazem mais sentido estar ocupando espaço em sua mente. Vai ficar mais fácil ser feliz.

Seja verdadeiramente feliz!!!

sexta-feira, 4 de julho de 2008

A Psicologia Budista

O físico Fritjof Capra, em seu livro O Tao da Física, nos fala que o budismo - ao contrário do hinduísmo que lhe serviu de preparação e que possui um forte colorido mitológico e ritualístico - tem um caráter e um "sabor" eminentemente psicológicos. Segundo Capra, "Buda não estava interessado em satisfazer a curiosidade humana acerca da origem do mundo, da natureza do Divino ou questões desse gênero. Ele estava preocupado exclusivamente com a situação humana, com o sofrimento e frustrações dos seres humanos. Sua doutrina, portanto, não era metafísica; era uma psicoterapia. Buda indicava a origem das frustrações humanas e a forma de superá-las. Para isso, empregou os conceitos indianos tradicionais de maya, karma, nirvana, etc., atribuindo-lhes uma interpretação psicológica renovada, dinâmica e diretamente pertinente." (Capra, 1986, p. 77). Ele havia dedicado-se a um aspecto da evolução humana: a autocompreensão para por fim ao sofrimento humano, e só a este aspecto se dedicara.

"O que hoje somos deve-se aos nossos pensamentos de ontem que condicionaram nosso comportamento, e são os nossos atuais pensamentos que constroem a nossa vida de amanhã; a nossa vida é a criação de nossa mente. Se um homem fala ou atua com a mente impura, o sofrimento lhe seguirá da mesma forma que a roda do carro segue ao animal que o arrasta". (Buddha)

MENTE ABERTA!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

A lua e o apego


Ainda que a lua apareça em vários lagos ao mesmo tempo, ela não pertence a nenhum deles.

Lama Samten.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Interser

Se você for um poeta, verá claramente que há uma nuvem flutuando nesta folha de papel. Sem uma nuvem, não haverá chuva; sem chuva, as árvores não podem crescer e, sem árvores, não podemos fazer papel. A nuvem é essencial para que o papel exista. Se ela não estiver aqui, a folha de papel também não pode estar aqui. Logo, nós podemos dizer que a nuvem e o papel intersão. "Interser" é uma palavra que não está no dicionário ainda, mas se combinarmos o prefixo "inter" com o verbo "ser", teremos este novo verbo "interser". Sem uma nuvem, não podemos ter papel, assim podemos afirmar que a nuvem e a folha de papel intersão.

Se olharmos ainda mais profundamente para dentro desta folha de papel, nós poderemos ver os raios do sol nela. Se os raios do sol não estiverem lá, a floresta não pode crescer. De fato, nada pode crescer. Nem mesmo nó podemos crescer sem os raios do sol. E assim nós sabemos que os raios do sol também estão nesta folha de papel. O papel e os raios do sol. intersão. E, se continuarmos a olhar, poderemos ver o lenhador que cortou a árvore e a trouxe para ser transformada em papel na fábrica. E vemos o trigo. Nós sabemos que o lenhador não pode existir sem o seu pão diário e, conseqüentemente, o trigo que se tornou seu pão também está nesta folha de papel. E o pai e a mãe do lenhador estão nela também. Quando olhamos desta maneira, vemos que, sem todas estas coisas, esta folha de papel não pode existir.

Olhando ainda mais profundamente, nós podemos ver que nós estamos nesta folha também. Isto não é difícil de ver, porque quando olhamos para uma folha de papel, a folha de papel é parte de nossa percepção. A sua mente está aqui dentro e a minha também. Então podemos dizer que todas as coisas estão aqui dentro desta folha de papel. Você não pode apontar uma única coisa que não esteja aqui- tempo, espaço, a terra, a chuva, os minerais do solo, os raios do sol, a nuvem, o rio, o calor. Tudo coexiste com esta folha de papel. É por isto que eu penso que a palavra interser deveria estar no dicionário. "Ser" é interser. Você simplesmente não pode "ser" por você mesmo, sozinho. Você tem que interser com cada uma das outras coisas. Esta folha de papel é porque tudo o mais é.

Suponha que tentemos retornar um dos elementos à sua fonte. Suponha que nós retornemos ao sol os seus raios. Você acha que esta folha de papel seria possível? Não, sem os raios do sol nada pode existir. E se retornarmos o lenhador à sua mãe, então também não teríamos mais a folha de papel. O fato é que esta folha de papel é constituída de "elementos não-papel". E se retornarmos estes elementos não-papel às suas fontes, então absolutamente não pode haver papel. Sem os "elementos não-papel", como a mente, o lenhador, os raios do sol e assim por diante, não existirá papel algum. Tão fina quanto possa ser esta folha de papel, ela contém todas as coisas do universo dentro dela.

Thich Nhat Hanh