sábado, 31 de outubro de 2009

Estudar o budismo é estudar a si memso


Buda nos disse: o homem é seu próprio refúgio, quem outro poderia ser? O homem buscando em si mesmo o seu próprio refúgio. Pelo fato de estar perdido no tempo e desconhecendo esse oceano (si próprio), torna-se prisioneiro da escuridão: exilado e perdido no mundo das aparências. Para o budismo o homem é uma criatura de inteligência limitada e relativa, que por estar aprisionado em seu próprio casulo, não consegue romper o auto-apego à vida e a todas as coisas que o cercam, desse modo o ser humano vive imerso na ilusão do ego. Duplos olhos que se convergem: o primeiro, prisioneiro do que vê, o segundo, em busca da possibilidade de encontrar-se a si próprio. Inquieto e escravizado, se vê diante da impossibilidade de romper o “casulo”, o mundo das aparências, incapaz de saber o que é, escolhendo parecer o que a sociedade queria que parecesse.

Em conflito com o ontem (passado, memória) e o amanhã (futuro, imaginação), se vê diante de um jogo duplo: memória, passado que não esquece os acontecimentos que não existem mais, e imaginação, futuro idealizando acontecimentos que ainda não existem. Um ser que não se permite descer às profundezas da interioridade, permanecendo preso às convenções da lógica objetiva num mundo repleto de eventos aversivos.

Certa vez escreveu o filósofo Kiyozawa Manshi (1863-19O3): “Os sábios e os virtuosos não criaram nada de novo. Eles apenas investigam e tornam-se conscientes das verdades e características originalmente existentes”.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Condicionamentos mentais


Estamos imersos em nosso próprio sofrimento. A cada evento que consideramos desagradável reagimos com desarmonia, com mais desagrado e assim geramos mais sofrimento. A esse círculo vicioso e condicionado, no budismo chamamos de "Samsara", o mundo das perambulações.

Por que então insistimos nos mesmos caminhos?

Criamos, desde que nascemos (ou se falarmos de uma perspectiva budista, desde um tempo sem início, marcas no nosso continuum mental), as sementes das situações que hoje experimentamos.

Ao despertamos plenamente para a verdadeira natureza dos fenômenos, podemos nos libertar de todo o sofrimento. "A verdadeira natureza dos fenômenos", aqui, quer dizer o entendimento de que todos os fenômenos são impermanentes, insatisfatórios e impessoais. Tornando-se consciente dessas características da realidade, seria possível viver de maneira plena, livre dos condicionamentos mentais que causam a insatisfação, o descontentamento, o sofrimento.

“A felicidade está ao alcance de todos.” Este é o princípio básico do budismo, que ensina também ser possível viver de forma plena, livre de condicionamentos mentais capazes de provocar insatisfação e dor.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

A Prática Budista na Vida Cotidiana



O Budismo aceita que todos os seres aspiram à felicidade e a livrar-se do sofrimento. Porém, seguir isso sem uma sabedoria mais profunda é girar dentro do que chamamos de experiência cíclica, sem solução. Devemos buscar fontes seguras de felicidade, essas fontes não podem ter as características da impermanência, mas quase sempre encontramos fontes de felicidade impermanentes.

Procuramos por fontes mais seguras, que nos permitam ficar a salvo do sofrimento, e é a mesma coisa: vamos nos ver girando sem nunca encontrar, pois todas são impermanentes. O Budismo propõem uma solução, e diz: nós temos procurado, vida após vida, onde não vamos encontrar. Aparentemente, o Budismo se oferece de uma forma um pouco negativa, mas não é isso. Ele diz que é inútil você procurar onde não vai encontrar, mas existe um caminho possível para libertação do sofrimento. Continue lendo...

Lama Padma Samten, físico e budista.

domingo, 25 de outubro de 2009

Zen-Budismo convida você a assumir a sua loucura. E transcendê-la.


A língua é o órgão menos adequado para expressar o significado do Zen. A barriga talvez seja mais apropriada. Alguns povos orientais, quando visitados pela primeira vez por um grupo de cientistas dos E.U.A. e sabendo que os norte-americanos pensavam com a cabeça, puseram-se logo a achar que eles eram loucos. E se explicaram: "É que nós, orientais, pensamos com o abdômen". As pessoas na China e no Japão, quando notam que alguém está com algum problema difícil, costumam dizer: "Pergunte à sua barriga, ela sabe a resposta".

Zen não escapa desta regra. Tentar compreender o Zen-Budismo intelectualmente é perder para sempre o seu significado. O intelecto serve a vários propósitos na vida diária, não há dúvida de que se trata de uma coisa utilíssima. Mas não resolve o problema crucial com que todos nós, cedo ou tarde, esbarramos em nossas vidas: o problema da vida e da morte, que diz respeito ao verdadeiro sentido da vida. Quem sou eu? Onde estão meu principio e fim no tempo e no espaço? Onde estava eu antes que meus pais nascerem? Para onde que vou depois que morrer?

Quando enfrentamos esse problema, o intelecto precisa confessar sua incapacidade de lidar com ele. O beco sem saída a que somos conduzidos não pode ser ultrapassado por uma manobra intelectual ou por um artifício da lógica. É necessária a totalidade do nosso ser. E é neste momento que o Zen surge como uma possibilidade, um caminho em direção á resposta do problema.

Portanto, tentar conhecer o Budismo Zen com o objetivo de ampliar nossa cultura geral é uma tolice semelhante a pedir a alguém que beba água em nosso lugar e esperar que a sede passe: o que nos descrevam o gosto de uma fruta ou a temperatura da água. Tudo isso depende da experiência pessoal, direta.

O Zen-Budismo é místico? Essa pergunta é muito frequente, quando as pessoas ouvem falar do assunto pela primeira vez. O Misticismo é um ponto crucial, que faz com que os ocidentais falhem todas as vezes que tentam compreender a mente oriental. Por que o misticismo desafia a analise lógica, e esta é a característica fundamental do pensamento ocidental. O conceito ocidental de místico está sempre ligado ao fantástico, ao irracional, ao oculto. No oriente, misticismo não se refere a nada que não possa ser trazido para dentro da compreensão intelectual. Portanto, o Zen-Budismo é místico na medida em que o Sol brilha todas as manhãs, a lua surge todas as noites, e as flores deixam seu perfume na manga da nossa camisa, quando as tocamos de perto. Se isso é misticismo, então o Zen-Budismo é profundamente místico.

O Zen-Budismo é um sistema filosófico, intelectual? Não. O Zen-Budismo não é fundado na lógica ou na análise, é o contrário da lógica e do modo dualístico (ex. bom, mau - bonito, feio - vida, morte...) de pensar. Não existem no Zen, livros sagrados, dogmas ou quaisquer fórmulas através das quais se possa chegar ao seu significado. E o que o Zen-Budismo ensina? Nada. O Zen aponta o caminho, o resto é por nossa conta.

Zen é caótico, uma virtual negação de tudo, pelo menos se o virmos com a ótica racionalista da mente ocidental. Mas, por trás desta sucessão de negativas, o Zen-Budismo sustenta algo absolutamente positivo e eternamente afirmativo. Zen-Budismo é um estilo de vida e se propõe, por métodos práticos e diretos, a disciplinar a mente por si mesma, fazendo-a mergulhar em sua própria natureza. É um exercício que consiste em abrir o olho mental dos seus praticantes para que eles despertem do sono profundo da ignorância e vejam de perto a própria razão da existência. Só assim poderão contemplar o grande mistério que é representado diariamente.

O que é mente? É a verdadeira natureza de todos os seres, aquilo que existia antes que nossos pais tivessem nascido e antes do nosso próprio nascimento e que existe agora, imutável e eterna. Quando nascemos ela não é criada, e quando morremos ela não é destruída. Não tem nenhum tipo de distinção, nenhuma conotação de bom ou ruim. Não pode ser comparada a nada, e a chamamos Natureza de Buda. Muitos pensamentos surgem dela, como as ondas do oceano e as imagens num espelho. Quem deseja conhecer a própria mente deve, antes de tudo, olhar a própria fonte da qual surgem os pensamentos. O que é chamado Zazen não é mais do que olhar a natureza da mente. Aquele que conhece a própria mente é um Buda e livra-se para sempre dos sofrimentos que surgem da ignorância.

Este ensaio sobre o Zen-Budismo, com final do jornalista Marco Antônio Lacerda é baseado em 3 Obras sobre o assunto:

Zen Buddhism and Psychoanalysis,
Essays in Zen Buddhism e Misticism;
Christian and Buddhist,
todos de autoria de D.T. Suzuki

sábado, 24 de outubro de 2009

Quem você vai alimentar hoje?


Um monge descreveu certa vez um de seus conflitos internos:

"Dentro de mim existem dois tigres, um deles é cruel e mau, o outro é muito bom e dócil. Os dois estão sempre brigando..." Quando então lhe perguntaram qual dos tigres ganharia a briga, o sábio monge parou a refletir e respondeu:

"Aquele que eu alimentar"!

O som do calhau, o som do bambu


Um dia em que Kyogen varria o jardim à frente do eremitério, rolou montanha abaixo um calhauzinho que foi bater num bambu. O som fê-lo despertar e ele, assim, obteve o satori perfeito.

No rinzai, é costume dizer que o satori chega de repente. Mas o que é o satori? Antes dessa experiência, ele alimentara sempre uma dúvida. Dia após dia, não se sentia satisfeito. Seu mestre, Issan, lhe dizia:

- És inteligente mas leste sutras em demasia. Tua inteligência do zen provém da memória dos sutras! Não podes obter o shiho (a transmissão, a certificação do mestre ao discípulo). Procura retornar ao período do teu nascimento, quando não podias compreender em que direção ficavam o leste e o oeste, e volta a falar-me nisso.
Ele queimou incontinente todos os seus livros, seus sutras, seus cadernos. Chorou. Deixou o dojo do mestre, foi para a montanha e passou a viver sozinho. Fez zazen sozinho durante um ano, dois anos. Um dia, escutando o som do bambu ferido por uma pedra, despertou de todo e suas dúvidas tiveram fim: "Fui estúpido até hoje". Compôs um poema: " Tudo esqueci. Dei cabo das ideias que me atochavam o espírito. Minhas complicações tiveram fim."

Fez sampai na direção do mestre, Issan, e queimou incenso. Enviou o poema ao mestre, que disse: "Esse rapaz, meu discípulo, compreendeu".
E concedeu-lhe o shiho.

Inspirado nessa história, Deichi fez um poema:

"Pelo som de um choque
Ele esqueceu todo seu saber".

Deste nada restou. O vazio total. Mas o satori não dependia do seu cérebro. Não chegou de repente. Kyogen não o obteve por intermédio do bambu, nem por intermédio do vento. Nem se diga que o obteve nesse único instante. Não foi de repente.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

MEDITAÇÃO


Você não tem uma mente: você é a mente! Se você acredita que “tem” uma mente, é porque está se vendo no espelho e acreditando que é sua imagem. Você não tem uma mente: você é a mente! Sair da identidade “eutenhocêntrica” e entrar na identidade “eusoucêntrica” é fundamental no verdadeiro caminho de evolução espiritual. Só com este pulo você pára de sofrer (em vão) com os acontecimentos da vida e passa a usá-los no seu real propósito: uma escola viva para se aprender a meditar.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

DOZE CONSELHOS PARA TER UM ENFARTO FELIZ!!!


1. Cuide de seu trabalho antes de tudo. As necessidades pessoais e familiares são secundárias.

2. Trabalhe aos sábados o dia inteiro e, se puder também aos domingos.

3. Se não puder permanecer no escritório à noite, leve trabalho para casa e trabalhe até tarde.

4. Ao invés de dizer não, diga sempre sim a tudo que lhe solicitarem.

5. Procure fazer parte de todas as comissões, comitês, diretorias, conselhos e aceite todos os convites para conferências, seminários, encontros, reuniões, simpósios etc.

6. Não se dê ao luxo de um café da manhã ou uma refeição tranquila. Pelo contrário, não perca tempo e aproveite o horário das refeições para fechar negócios ou fazer reuniões importantes.

7. Não perca tempo fazendo exercícios, nadando, pedalando, jogando bola ou tênis. Afinal, tempo é dinheiro.

8. Nunca tire férias, você não precisa disso. Lembre-se que você é de ferro.

9. Centralize todo o trabalho em você, controle e examine tudo para ver se nada está errado. Delegar é pura bobagem; é tudo com você mesmo.

10. Se sentir que está perdendo o ritmo, o fôlego e pintar aquela dor de estômago, tome logo estimulantes, energéticos e anti-ácidos. Eles vão te deixar 'tinindo'.

11. Se tiver dificuldades em dormir não perca tempo: tome calmantes e sedativos de todos os tipos. Agem rápido e são baratos.

12. E por último, o mais importante: não se permita ter momentos de silêncio, meditação, de ouvir uma boa música e reflexão sobre sua vida. Isto é para crédulos e tolos sensíveis.

Repita para si: "Eu não perco tempo com bobagens" ( ... e tenha um feliz enfarto!!!!)

Quando publiquei estes conselhos 'amigos-da-onça' em meu site, recebi uma enxurrada de e-mails, até mesmo do exterior, dizendo que isto lhes serviu de alerta, pois muitos estavam adotando esse tipo de vida inconscientemente. Dr. Ernesto Artur - Cardiologista

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Mente intuitiva


A Mente intuitiva é um dom sagrado e
a mente racional, um servidor fiel.
Criamos uma sociedade que honra o servidor e esquece o dom.

Albert Einsten.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

ACEITAÇÃO


Lao Tsé, o grande mestre do taoísmo, costumava dizer que devemos aceitar absolutamente tudo o que a vida nos enviar, seja bom ou ruim, sem qualquer luta ou resistência. Segundo ele, a entrega pacífica aos ditames da vida não constitui uma atitude de passividade ou inércia, mas de uma integração total com o fluxo da existência, que nos faz viver totalmente harmonizados com as forças do Universo.

A verdadeira aceitação não traz nenhuma relutância e consiste em trabalhar com o que se apresenta como a única realidade possível, com a qual teremos de aprender a lidar.

sábado, 10 de outubro de 2009

FELICIDADE GENUÍNA


CAMINHOS PARA FELICIDADE GENUÍNA

por Alan Wallace

Com relação aos “Caminhos para Felicidade”, acredito que nós deveríamos começar com os pés no chão. Enquanto consideramos a felicidade para nós mesmos e para as pessoas que nos cercam, para poder encontrá-la é tão importante ter as necessidades básicas realizadas nas nossas vidas. Se você não tem o que comer e está com fome, não tem roupas ou não tem um teto, se você está doente e não tem acesso a remédios, assim é impossível ser feliz. Esse é o primeiro passo.

Alcançando estas necessidades básicas da vida: comida, remédios, roupas e moradia, assim você pode conseguir algum nível de felicidade, talvez você possa conseguir algum alívio do sofrimento, se você encontrar essas quatro necessidades básicas. Mas aí podemos nos perguntar: e daí em diante, quando as suas necessidades básicas foram atendidas, o que você faz?

Todo o ser humano têm essa motivação básica, de querer ser feliz e evitar o sofrimento. Então quando se tem o que comer, quando suas necessidades básicas foram atendidas, como você busca a felicidade a partir daí? O que acontece então?

Quando eu tenho comida suficiente, então eu busco mais comida. Quando tenho roupas suficientes, eu busco mais roupas, e roupas melhores e mais caras, se eu tenho uma casa, eu quero uma casa ainda melhor, e se eu tenho remédio, eu quero remédio ainda melhor. Infelizmente com essa visão de consumir cada vez mais, sinto que o planeta não tem o suficiente pra prover tudo o que lhe é exigido. Assim podemos perceber que países industrializados como na Europa e os Estados Unidos, estão dando um exemplo para o resto do mundo, e se todos seguirem este exemplo, certamente levará a destruição do planeta. Se 6 bilhões de pessoas nesse planeta, estiverem satisfeitas com o que é suficiente a elas, então o mundo teria plenas condições de atender a todos. E há uma possibilidade de saciedade...

E há uma frase que resume o ideal monástico para todas as tradições contemplativas...
É o fato de estar contente e satisfeito apenas com aquilo que é realmente necessário para uma vida digna. Um vez que nós tenhamos essas coisas básicas, e sejamos satisfeitos com isso... Parece que ainda assim queremos algo mais... Nós não ficaremos satisfeitos apenas com isso!

Então como vamos alcançar esta felicidade maior, sem consumir mais e mais?

Porque simplesmente não há recursos suficientes para todos, quando o nosso apetite é insaciável!

Então quando nós temos essas necessidades básicas atendidas, podemos levantar uma questão: “O que constitui uma vida com sentido”?

As religiões do mundo têm falado sobre este tópico por muitos séculos, mas muitas vezes as suas propostas não são satisfatórias para alguns cientistas ou para pessoas que não acreditam na espiritualidade, então poderíamos oferecer alguns pontos satisfatórios, tanto em um contexto científico quanto religioso, para que possamos levar uma vida com sentido.

Um desses elementos é a busca pela felicidade genuína. Por isso eu creio que uma vida que tenha sentido, inevitavelmente acaba encontrando a felicidade genuína, e este é um dos sinais de que a pessoa encontrou sentido na vida.

Eu diria que outra busca, dentro dessa vida com sentido, seria a busca pela verdade,
busca por mais compreensão e por mais entendimento no mundo. Enfim a busca da virtude, virtudes como a bondade, generosidade e a compaixão, que todos nós apreciamos, sejamos nós cientistas ou pessoas comuns.

“Creio que a própria finalidade de nossas vidas seja buscar a felicidade, quer alguém acredite em uma religião ou não, quer alguém acredite nesta ou naquela religião, todos nós buscamos algo melhor na vida. Então penso eu que a própria direção da vida seja no sentido da felicidade.” Dalai Lama.

Dr. ALAN WALLACE é físico, Ph.D. em Estudos Religiosos pela Universidade de Standford e criador do Santa Barbara Institute for Consciousness Studies nos EUA.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Quebrar o feitiço


Às vezes as pessoas pensam que reconhecer a verdade do sofrimento condiciona uma visão pessimista da vida, que de algum modo isso nega a vida. Na verdade, é bem o contrário.

Ao negar o que é verdade -- por exemplo, a verdade da impermanência -- vivemos em um mundo de ilusão, enfeitiçados. Então quando as circunstâncias mudam de modo que não gostamos, sentimos desapontamento, raiva ou amargura.

Buda expressou o poder liberador de ver a incerteza das condições: "Tudo que está sujeito ao surgimento está sujeito à extinção. Ao se desencantar, a pessoa se torna impassível. Através da impassibilidade, a mente é liberada".

É revelador que em inglês [NT: em português também] "desencantado", "desiludido" e "impassível" geralmente têm conotação negativa. Mas examinar mais de perto os significados revela sua ligação com a liberdade.

Se desencantar significa quebrar o feitiço do encantamento, acordar para uma realidade mais plena e maior. Se desiludir não é o mesmo que se desapontar ou se desencorajar. É uma religação com o que é verdade, livre da ilusão. E "impassível" não significa indiferença ou ausência de energia vital para viver. Em vez disso, trata-se de uma mente com maior abertura e equanimidade, livre do apego.

Joseph Goldstein
"One Dharma"
Tricycle's Daily Dharma


Postado aqui!

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Zen e a Crise da Cultura Ocidental


"Suspeito que o vício do rock, dada principalmente a falta de outras atrações, tem um efeito semelhante ao das drogas. Os estudantes acabarão esquecendo esta música ou pelo menos a exclusiva paixão por ela. Mas o farão da mesma maneira como Freud dizia que os homens aceitam o princípio da realidade: como algo impiedoso, cruel e basicamente sem atrativos, mera necessidade"... Allan Bloom

Venho insistindo há tempos que por detrás da crise atual econômicofinanceira vige uma crise de paradigma civilizatório. De qual civilização? Obviamente se trata da civilização ocidental que já a partir do século XVI foi mundializada pelo projeto de colonização dos novos mundos.

Este tipo de civilização se estrutura na vontade de poder-dominação do sujeito pessoal e coletivo sobre os outros, os povos e a natureza. Sua arma maior é uma forma de racionalidade, a instrumentalanalítica, que compartimenta a realidade para melhor conhecê-la e assim mais facilmente submetê-la. Depois de quinhentos anos de exercício desta racionalidade, com os inegáveis benefícos trazidos e que encontrou na economia política capitalista sua realização mais cabal, estamos constatando o alto preço que nos cobrou: o aquecimento global induzido, em grande parte, pelo industrialismo ilimitado e a ameaça de uma catástrofe previsível ecológica e humanitária.

Estimo que todos os esforços que se fizerem dentro deste paradigma para melhorar a situação serão insuficientes. Serão sempre mais do mesmo. Temos que mudar para não perecer. É o momento de inspirar-nos em outras civilizações que ensaiaram um modo mais benevolente de habitar o planeta. O que foi bom ontem, pode valer ainda hoje.

Tomo como uma das referências possíveis o zenbudismo. Primerio, porque ele influenciou todo o Oriente. Nascido na India, passou à China e chegou ao Japão. Depois porque penetrou vastamente em estratos importantes do Ocidente e de todo o mundo. O Zen não é uma religião. É uma sabedoria, uma maneira de se relacionar com todas as coisas de tal forma que se busca sempre a justa medida, a superação dos dualismos e a sintonia com o Todo.

A primeira coisa que o zenbudismo faz, é destronar o ser humano de sua pretensa centralidade, especialmente do eu, cerne básico do individualismo ocidental. Ele nunca está separado da natureza, é parte do Todo. Em seguida, procura uma razão mais alta que está para além da razão convencional. Recusa-se a tratar a realidade com conceitos e fórmulas. Concentra-se com a maior atenção possível na experiência direta da realidade assim como a encontra.

“Que é o zen” perguntou um discípulo ao mestre. E este respondeu: “as coisas cotidianas; quando tem fome, coma, quando tem sono durma”. “Mas não fazem isso todos os seres humanos normais”?- atalhou o discípulo. “Sim”- respondeu o mestre - “os seres humanos normais quando comem pensam em outra coisa, quando dormem, não pregam o olho porque estão cheios de preocupações”. Que significa esta resposta? Significa que devemos ser totalmente inteiros no ato de comer e totalmente entregues ao ato de dormir. Como já dizia a mística cristã Santa Tereza:”quando galinhas, galinhas, quando jejum, jejum”. Essa é a atitude zen. Ela começa por fazer com extrema atenção as coisas mais cotidianas, como respirar, andar e limpar um prato. Então não há mais dualidade: você é inteiro naquilo que faz. Por isso, obedece à lógica secreta da realidade sem a pretensão de interferir nela. Acolhê-la com o máximo de atenção nos torna integrados porque não nos distraimos com representações e palavras.

Essa atitude faltou ao Ocidente globalizado. Estamos sempre impondo nossa lógica à lógica das coisas. Queremos dominar. E chega um momento em que elas se rebelam, como estamos constatando atualmente. Se queremos que a natureza nos seja útil, então devemos obedecer a ela.

Não deixaremos de produzir e de fazer ciência, mas o faremos como a máxima consciência e em sintonia com o ritmo da natureza. Orientais, ocidentais, cristãos e budistas podem usar o zen da mesma forma que peixes grandes e pequenos podem morar no mesmo oceano. Eis uma outra forma de viver que pode enriquecer nossa cultura em crise.

Leonardo Boff é teólogo, filósofo e escritor, e pertence ao corpo de assessores da Presidênca da ONU. Autor de Espiritualidade: caminho de realização, Vozes 2009.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O Zen na Cerimônia do Chá



Plena atenção e dedicação integral ao momento presente. Pode-se claramente notar a influência do Zen na Cerimônia do Chá.

"O Zen e o Chá Têm o Mesmo Gosto"


Vindo da China para o Japão nos meados do oitavo século, o costume de tomar chá ganhou popularidade iniciando-se pela aristocracia. No século 13, os monges Zen incorporaram o chá no treino do zazen para o fim da concentração espiritual e boa saúde. A etiqueta formalizada da cerimônia do chá (sado) nasceu da conexão entre o Zen e o chá e se desenvolveu até a atualidade para transmitir o espírito do Zen.

Por Shodo Takatori
Chefe da filial de Kofu do Sencha Caminho do Chá