domingo, 30 de novembro de 2008

Ainda a está carregando?

Os contos zen são uma categoria à parte da sabedoria oriental. São como as parábolas que nós, ocidentais, popularmente conhecemos através das histórias de Jesus, mas que estão presentes nas mais diversas culturas. O formato se assemelha: contos bastante sintéticos, de onde são extraídas lições morais, ou preceitos religiosos, ou simplesmente ponderações sobre a vida. Mas qualquer que seja a origem, para compreender uma parábola ou conto zen, é preciso transcender o senso comum e “abrir a mente” para novas percepções que podem mudar a forma de lidarmos com a vida habitualmente.


Tanzan e Ekido estavam uma vez viajando juntos por uma estrada lamacenta. Uma chuva forte caía persistentemente.

Numa das curvas da estrada, eles encontraram uma moça adorável, vestida com um quimono de seda e com uma faixa, que não conseguia atravessar o cruzamento.

“Venha cá, menina”, disse Tanzan imediatamente. Levantando-a em seus braços, ele carregou a moça através da lama.

Ekido não falou mais nada até aquela noite em que eles chegaram a um templo com pousada. Ele então não pôde mais se conter. “Nós, monges, não nos aproximamos de mulheres”, disse ele a Tanzan, “sobretudo não das jovens e graciosas. É perigoso. Por que você fez aquilo?”

“Eu deixei aquela menina lá”, disse Tanzan. “Você ainda a está carregando?”

Conto Zen. (Originalmente postado no Blog Cultura do Oriente)

sábado, 29 de novembro de 2008

"Quem olha para fora, SONHA... quem olha para dentro, ACORDA!"

(CARL GUSTAV JUNG)

Quando refletimos acerca do significado do verdadeiro silêncio, temos que considerá-lo a partir de dois ângulos: O primeiro consiste em ver o silêncio através dos olhos humanos; e o segundo, em ver o silêncio através dos "olhos de Buda", ou do olho universal DAININ KATAGIRI.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Mente simples


A única mente que pode enxergar a vida de maneira transformada é a simples. O dicionário define simples como "tendo ou sendo composto por apenas uma parte". A percepção consciente pode absorver uma multiplicidade de coisas, da mesma forma como o olho consegue captar muitos detalhes ao mesmo tempo. Mas em si mesma a percepção consciente é uma coisa só. Ela permanece inalterada, sem acréscimos ou modificações. A percepção consciente é completamente simples; não temos de acrescentar nada, nem de modificá-la. É despretensiosa e isenta de arrogância. Não pode evitar de ser assim, a percepção consciente não é uma coisa, para ser afetada por isto ou aquilo. Quando vivemos a partir da pura percepção consciente, não somos afetados por nosso passado, nem pelo presente, nem pelo futuro. Uma vez que a percepção consciente nada tem que possa servir-lhe de fingimento, é humilde. É modesta. Simples.

Extraído do livro "Nada Especial" de Charlotte Joko Beck.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

MOMENTO PRESENTE


Este é o único momento para se viver. Se vocês perdem o momento presente, perdem seu compromisso com a vida. Buddha disse que vida só está disponível no momento presente. "Momento maravilhoso", esta é a vida que vocês tocam. De repente a felicidade torna-se possível. Estar vivo, tocar o céu azul, a terra, inspirando e expirando livremente, nos permitindo descansar o corpo e a consciência, já é uma coisa maravilhosa. Nossa percepção sempre continua crescendo. Você não tem que procurar um "curso intensivo" de meditação, ou um "nível alto" de meditação, ou uma prática "intensiva" ou "alta". Lin-Chi, o fundador da escola Rinzai de meditação, disse, "O milagre não é caminhar no fogo ou no ar tênue, o milagre é caminhar na terra". Se a consciência está lá, você está executando o milagre de estar vivo a cada momento.

(extraído de"A Arte de Curar a Nós Mesmos"ensinamentos do Mestre Thich Nhat Hanh)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Isso é o Karma


Nossas ações viram causas e, dessas causas, naturalmente, vêm resultados. Tudo que é colocado em movimento produz um movimento correspondente. Se você joga uma pedra em uma lagoa, formam-se ondulações em círculos, batem na margem e voltam. O mesmo se passa com o movimento dos pensamentos. Quando os resultados desses pensamentos retornam, sentimo-nos vítimas indefesas: "Estávamos inocentemente vivendo nossa vida... por que todas essas coisas estão acontecendo conosco? "O que acontece é que as ondulações estão voltando para o centro. Isso é o karma.

Chagdud Tulku Rinpoche, em "Portões da Prática Budista".

sábado, 22 de novembro de 2008

Qual o caminho?


Tudo em nossa vida pode ser simplesmente uma obrigação, ou pode ser uma maneira de seguir o caminho.

Três operários trabalhavam numa obra, quando um homem aproximou-se.

“O que você está fazendo?“ perguntou ao primeiro operário.
“Estou ganhando a vida!“, disse, mal humorado.

O visitante virou-se para o segundo operário e fez a mesma pergunta. “Estou quebrando pedras”, respondeu ele.

Finalmente, o visitante se aproximou do terceiro homem e fez a mesma pergunta.
“Estou construindo um templo”, foi a resposta.

Os três faziam a mesma coisa. Mas apenas o terceiro compreendia verdadeiramente sua tarefa.

“Quando alguém pergunta: Qual o caminho? O Zen responde: “Simplesmente caminhe!”

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Karma


A palavra [karma] penetrou na consciência ocidental, a partir do ponto de vista budista, pelo menos, em certa aparência distorcido. É muitas vezes chamada de Lei de Causa e Efeito, portanto, é sobre as consequências e as ações do corpo, fala e mente. E as consequências são muito importantes no budismo.

Qualquer ação que se fizesse, porém sutil, pela pessoa que exerça sempre vai produzir um futuro "amadurecimento" e, em última análise, um "fruto" de qualidade moral semelhante, porque a esfera humana do karma opera de uma maneira ética. Então, uma ação antiética irá produzir conseqüentemente uma causa dessa natureza, ainda nesta manifestação ou em algum futuro renascimento; e o mesmo acontece em relação a ações moralmente boas ou indiferentes que são desenvolvidas e livremente empreendidas. Na Bíblia diz-se algo semelhante: que nós vamos colher o que semeamos. Se quisermos progredir espiritualmente - ou mesmo apenas viver com o mínimo de agravamento - por isso, devemos ser muito cautelosos na nossa fala e ação, pois não há maneira de podermos escapar às consequências.

- John Snelling, Elementos do Budismo.
de Everyday Mind, edited by Jean Smith, a Tricycle book.

A coragem do mestre


Um rei chamado Nobushige foi até o mestre Zen Hakuin, e perguntou: “por acaso existe o inferno e o paraíso?

O mestre ficou calado. O rei insistiu algumas vezes, até que Hakuin disse: “quem é o senhor para vir até aqui perturbar a minha tranqüilidade?”

A face de Noboshige ficou vermelha de raiva.

“Sou um rei, o senhor de todas estas terras!”

“Que rei idiota! Imagine, viajar para tão longe só para fazer uma pergunta estúpida!”

Noboshige começou a desembainhar sua espada.

“Ah, então o senhor está armado!”, riu o mestre zen. “Pois aposto que esta espada está cega e enferrujada!”

“Você verá!”, bradou o rei. “Minha fúria é como inferno na terra!”

O mestre zen abriu o quimono e mostrou o peito. “Vamos! Acabe com minha vida! Assim que esta espada tocar o meu coração, estarei no paraíso!”

Houve um momento de silêncio.

O mestre zen olhou direto para Noboshige: “então, respondi sua pergunta? O inferno é perder o controle apesar do poder. O paraíso é manter o controle, apesar do medo”.

Conto Zen.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Mente Una


O Venerável Nagarjuna disse, “A mente que vê profundamente o fluxo do nascimento e da morte e reconhece a natureza transitória do mundo é conhecida por Mente da Iluminação.”

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

A nevoa azulada


No monte, o templo
envolto em cobertor
de neve azulada.

Vagarosamente
o horizonte se revela.
Dissipa-se a névoa.

Poesia Zen.

domingo, 16 de novembro de 2008

O inimigo sou eu


"Ter controle sobre a mente é um desafio. Em geral, estamos no passado, nostálgicos ou lamentosos. Ou no futuro, antecipando catástrofes ou adiando possibilidades.
No presente, nunca." Eliane Brum - leia a matéria aqui!

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Meditação no Hospital


Lembremos que o Ministério da Saúde recomendou a prática de meditação com finalidades terapêuticas, a iniciativa de membros do Templo Busshinji em SP está descrita abaixo, um exemplo a ser seguido:

"Através do zazen, podemos despertar qualidades naturais de alegria, compaixão, liberdade, harmonia e respeito para com todos os seres, favorecendo, assim, o desenvolvimento de uma comunidade pacífica e feliz.

Nesse sentido, iniciam-se a partir de 10 de novembro práticas de zazen no Hospital do Servidor Público Municipal, sob responsabilidade dos monges Jisho e Koun e do praticante Shokan. A prática é aberta ao público em geral (e não apenas a funcionários, pacientes e visitantes).

O Hospital conta com uma sala de meditação, com vários zafus e zabutons, num recinto agradável e apropriado para o zazen.

Todos estão convidados a participar e a divulgar essa iniciativa.

Local:
Hospital do Servidor Público Municipal
9º andar – Sala de Meditação.
Rua Castro Alves, 60 – Aclimação
Metrô Vergueiro
São Paulo

Horários:

Segundas e terças-feiras
7:00, 7:45, 8:30, 9:15."
(Do blog Sangha Margha)

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Milho de pipoca

"Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre"

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo, fica do mesmo jeito a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosa. Só que elas não percebem e acham que seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos: a dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, o pai, a mãe, perder emprego ou ficar pobre. Pode ser fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão ou sofrimento, cujas causas ignoramos. Há sempre o recurso do remédio: apagar o fogo! Sem fogo o sofrimento diminui.

Com isso, a possibilidade da grande transformação também. Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro cada vez mais quente, pensa que sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar um destino diferente para si. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada para ela.

A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo a grande transformação acontece: BUM! e ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, algo que ela mesma nunca havia sonhado. Bom, mas ainda temos o piruá, que é o milho de pipoca que se recusa a estourar. São como aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.

A presunção e o medo são a dura casca do milho que não estoura. No entanto, o destino delas é triste, já que ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca, macia e nutritiva. Não vão dar alegria para ninguém.

“Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre.”

Rubem Alves, psicanalista, educador, teólogo e escritor.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Do mundo virtual ao espiritual

Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café-da-manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: "Qual dos dois modelos produz felicidade?"

Encontrei Daniela, de 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: "Não foi à aula?" Ela respondeu: "Não, tenho aula à tarde". Comemorei: "Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde". "Não", retrucou ela, "tenho tanta coisa de manhã..." "Que tanta coisa?", perguntei. "Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina", e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: "Que pena, a Daniela não disse: `Tenho aula de meditação!´"

Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a inteligência emocional. Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem 60 academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto?". "Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!" Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é entretenimento; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!" O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir!O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental, três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, falta de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro se sente uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos,todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald´s...

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: "Estou apenas fazendo um passeio socrático." Diante de seus olhares espantados, explico: "Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: `Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz.´"
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Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Luis Fernando Veríssimo e outros, de O desafio ético (Garamond), entre outros livros.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

"Carpe Diem" e o "Aqui Agora"


Colhe o dia, confia o mínimo no amanhã.
Não perguntes, saber é proibido, o fim que os deuses darão a mim ou a você, Leuconoe, com os adivinhos da Babilônia não brinque.

É melhor apenas lidar com o que se cruza no seu caminho. Se muitos invernos Jupiter te dará ou se este é o último, que agora bate nas rochas da praia com as ondas do mar Tirreno: seja sábio, beba o seu vinho e para o curto prazo reescale as suas esperanças. Mesmo enquanto falamos, o tempo ciumento está fugindo de nós. Colhe o dia, confia o mínimo no amanhã.

Veja o vídeo!

Carpe Diem tem um significado mais epicurista, mais voltado ao prazer, embora esta seja uma decadência do epicurismo que no início tinha uma marca mais estóica que o aproximava do budismo, influência vinda da Grécia que por sua vez foi influenciada de algum contato com o budismo indiano por volta do sec. III ac.

O Aqui Agora no budismo nega a realidade da passagem do tempo, transformando-o em um ponto no qual tudo está contido, (Uji ,de Dogen) em lugar de uma linha com passado e futuro no qual o presente é uma ponto em deslocamento constante e sem dimensão, o chamado tempo newtoniano.


segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Cada um com seu caminho

Um samurai, conhecido por todos pela sua nobreza e honestidade, veio visitar um monge Zen em busca de conselhos. Entretanto, assim que entrou no templo onde o mestre meditava, sentiu-se inferior, e concluiu que, apesar de toda a sua vida lutando por justiça e paz, não tinha sequer chegado perto ao estado de graça do homem que estava à sua frente.

- Por que estou me sentindo tão inferior? - perguntou, assim que o monge acabou de rezar. - Já enfrentei a morte muitas vezes, defendi os mais fracos, sei que não tenho nada do que me envergonhar. Entretanto, ao vê-lo meditando, senti que minha vida não tinha a menor importância.

- Espere. Assim que eu tiver atendido todos que me procurarem hoje, eu lhe darei a resposta.

Durante o dia inteiro o samurai ficou sentado no jardim do templo, olhando as pessoas entrarem e saírem em busca de conselhos. Viu como o monge atendia a todos com a mesma paciência e o mesmo sorriso luminoso em seu rosto. Mas o seu estado de ânimo ficava cada vez pior, pois tinha nascido para agir, não para esperar.

De noite, quando todos já haviam partido, ele insistiu:

- Agora o senhor pode me ensinar?

O mestre pediu que entrasse, e conduziu-o até o seu quarto. A lua cheia brilhava no céu, e todo o ambiente inspirava uma profunda tranqüilidade.

- Está vendo esta lua, como é linda? Ela vai cruzar todo o firmamento, e amanhã o sol tornará de novo a brilhar. Só que a luz do sol é muito mais forte, e consegue mostrar os detalhes da paisagem que temos à nossa frente: árvores, montanhas, nuvens. Tenho contemplado os dois durante anos, e nunca escutei a lua dizendo: por que não tenho o mesmo brilho do sol? Será que sou inferior a ele?

- Claro que não - respondeu o samurai. - Lua e sol são coisas diferentes, e cada um tem sua própria beleza. Não podemos comparar os dois.

- Então, você sabe a resposta. Somos duas pessoas diferentes, cada qual lutando à sua maneira por aquilo que acredita, e fazendo o possível para tornar este mundo melhor; o resto são apenas aparências.

"Sua tarefa é descobrir seu caminho e, então, com todo o coração, dedicar-se a ele." (Buddha).

domingo, 9 de novembro de 2008

A ordem natural

Um homem muito rico pediu a um mestre zen um texto que o fizesse sempre lembrar o quanto era feliz com a sua família.

O mestre zen pegou um pergaminho e, com uma linda caligrafia, escreveu:

- O pai morre. O filho morre. O neto morre.

- Como? - disse, furioso, o homem rico. - Eu lhe pedi alguma coisa que me inspirasse, um ensinamento que fosse sempre contemplado com respeito pelas minhas próximas gerações, e o senhor me dá algo tão depressivo e deprimente como estas palavras?

- O senhor me pediu algo que sempre lhe fizesse lembrar a felicidade de viver junto à sua família. Se o seu filho morrer antes, todos serão devastados pela dor. Se o seu neto morrer, será uma experiência insuportável.

"Entretanto, se sua família for desaparecendo na ordem em que coloquei no papel, isso trata-se do curso natural da vida. Assim, embora todos passem por momentos de dor, as gerações continuarão, e seu legado demorará muito tempo."

Conto Zen.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O Bambu Chinês


Um alento para aqueles que pensam em desistir da caminhada antes de atingir o objetivo desejado.

Depois de plantada a semente deste incrível arbusto, não se vê nada por aproximadamente 5 anos, exceto um lento desabrochar de um diminuto broto a partir do bulbo. Durante 5 anos, todo o crescimento é subterrâneo, invisível a olho nu, mas uma maciça e fibrosa estrutura de raiz que se estende vertical e horizontalmente pela terra está sendo construída. Então, no final do 5º ano, o bambu chinês cresce até atingir a altura de 25 metros. O escritor Stephen Covey escreveu: “Muitas coisas na vida pessoal e profissional são iguais ao bambu chinês. Você trabalha, investe tempo, esforço, faz tudo o que pode para nutrir seu crescimento, e às vezes não vê nada por semanas, meses ou anos. Mas se tiver paciência para continuar trabalhando, persistindo e nutrindo, o seu 5.º ano chegará, e com ele virão um crescimento e mudanças que você jamais esperava…“. O bambu chinês nos ensina que não devemos facilmente desistir de nossos projetos e de nossos sonhos. Devemos procurar cultivar dois bons hábitos na vida: a Persistência e a Paciência, para alcançar nossos sonhos. É preciso muita fibra para chegar às alturas, e ao mesmo tempo, muita flexibilidade para se curvar ao chão sem se partir.