terça-feira, 21 de abril de 2009

Sem objetivo


No Ocidente, somos muito direcionados para os objetivos. Sabemos para onde queremos ir e direcionamos nossas forças para chegar lá. Isso pode ser útil, mas muitas vezes nos esquecemos de apreciar também o caminho.

Existe no budismo uma palavra que significa “ausência de desejo” ou “ausência de objetivo”. A diferença consiste em você não colocar um alvo à sua frente e sair correndo atrás dele, porque já está aqui em você mesmo. Enquanto praticamos a meditação andando, não tentamos chegar a lugar nenhum. Damos apenas passos felizes, serenos. Se não pararmos de pensar no futuro, no que queremos realizar, perderemos nossos passos. O mesmo vale para meditação sentada. Nós nos sentamos só para apreciar o estar sentado. Não nos sentamos a fim de alcançar um objetivo. Isso é de importância vital. Cada momento da meditação sentada nos traz de volta à vida, e nós devemos nos sentar de forma tal que nos sintamos bem o tempo todo. Quer estejamos chupando uma tangerina, tomando uma xícara de chá, ou caminhando em meditação, deveríamos fazê-lo “sem objetivo”.

Muitas vezes dizemos a nós mesmos, “Não fique só aí sentado, faça alguma coisa”! Quando praticamos a plena consciência, porém, descobrimos algo inusitado. Descobrimos que o contrário pode ser ainda mais valioso: “Não fique aí fazendo alguma coisa. Sente-se!” Precisamos aprender a parar de vez em quando a fim de ver com nitidez. A princípio, “parar” pode parecer uma “resistência” à vida moderna, mas não se trata disso. “Parar” não é só uma reação; é um estilo de vida. A sobrevivência da humanidade depende de nossa capacidade de desacelerar. Temos mais de 50.000 bombas atômicas, e mesmo assim não conseguimos parar de fabricar mais. “Parar” não significa um basta ao que é negativo, mas também permitir que se realize uma cura positiva. É esse o propósito da nossa prática – não evitar a vida, mas experimentar e comprovar que a felicidade é possível agora e também no futuro.

A base da felicidade é a plena consciência. A condição fundamental para ser feliz é ter consciência de que se é feliz. Se não percebermos que estamos felizes, não estaremos realmente felizes. Quando estamos com dor de dente, não damos conta de que não ter dor de dente é maravilhoso. Mas, mesmo assim não nos sentimos felizes quando estamos sem dor de dente. Esquecemos quando estamos sem dor de dente. Há coisas que são agradáveis, mas que não sabemos apreciar se não praticamos a plena consciência. Quando estamos com a mente alerta, valorizamos essas coisas e aprendemos a protegê-las. Ao cuidar bem do momento presente, estamos cuidando bem do futuro. Trabalhar pela paz do futuro é trabalhar pela paz do momento presente.

Extraído do livro "Paz a cada Passo", de THICH NHAT HANH.

Um comentário:

Dália disse...

Adoro seu blog eadorei esse texto. Muito obrigada por compartilhar.

Mãos em prece,
Dália