terça-feira, 12 de maio de 2009

Coração Compassivo


Doutrinas complexas são úteis se, à certa altura as transcendermos e nos abrirmos ao coração compassivo que nos é dado pelo Buddha. O gesto fraterno não precisa de explicação. A verdadeira linguagem do Dharma é universal, independe de idiomas e passa à margem de traduções. Onde a compaixão aquece o coração e move os atos, lá o verdadeiro buddhismo está sendo vivido. Pouco importa por quem e sob que forma.

Há buddhistas que nunca ouviram falar de buddhismo. Quando escutam o Dharma, logo o reconhecem pois já o tinham consigo. Homens e mulheres movidos por espontânea piedade, acudindo aos que sofrem, esses são os devotos da Sangha. Muitos chamam o Buddha por outros nomes, tal como nós chamamos de Buddha o que eles reverenciam com suas palavras. Afinal, o Dharmakaya está ou não além de nome e forma? Ao necessitado que recebe o dadivoso apoio, pouco lhe importa em nome de quem é feita a caridade. Quem se esquece de si e lembra o outro, esse é o verdadeiro buddhista. Nesse sentido essencial, o buddhismo transcende o buddhismo. Quanto ao que se restringe à tradição formal, sejam doutrinas, ritos, regras monásticas, etc., tudo isso é meio e não fim. E, enquanto meios, existem para serem transcendidos. Os aspectos formais da tradição buddhista são como degraus de uma escada, visam levar para além de si. Os que se aferram ao formalismo e passam a considerar buddhismo um conjunto de idéias, termos ou atitudes estereotipadas, montam moradia no degrau, esquecidos da finalidade do mesmo. Acreditam que o barco é a margem à qual ele deveria nos conduzir. A opção por formas institucionais de crença, prática ou devoção é fator secundário, regido pelo karma. Quem acolheu o coração compassivo logo distingue o acessório e o essencial.

Shinran, Yuishinsho mon’i, The Collected Works of Shinran.

Toda pessoa cujo coração é movido por amor e compaixão, que profunda e sinceramente age para o benefício de outros sem se importar com fama, lucro, posição social ou reconhecimento... está trilhando um Caminho Compassivo".

– Bokar Rinpoche, o Senhor da Grande Compaixão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Este post mudou todo o meu conceito de budismo. Queria eu entender porque recitar o daimoku durante horas e horas me tornaria uma pessoa melhor. Recitava o daimoku o dia todo, sempre que tinha uma folguinha. Ficava dizendo nam-myo-oho-rengue-kyo...Não compreendia a essência do budismo. Agora posso até pensar em receber o gohonzon, mas depois de estudar outras tradições...

xaxeila