quarta-feira, 11 de agosto de 2010

NÃO CRIE MAIS DOR NO PRESENTE


por Eckhart Tolle

Nenhuma vida é inteiramente isenta de dor e de desgosto. Não será preferível aprender a viver com eles do que tentar evitá-los?

A maior parte da dor humana é desnecessária. Cria-se a si própria enquanto for a mente inobservada a dirigir a sua vida.

A dor que você criar agora será sempre uma certa forma de não aceitação, uma certa forma de resistência inconsciente aquilo que é. Ao nível do pensamento, a resistência é uma certa forma de julgamento. Ao nível emocional, é uma certa forma de negatividade.

A intensidade da dor depende do grau de resistência ao momento presente, e essa resistência por seu lado depende de quão fortemente você estiver identificado com a sua mente. A mente procura sempre recusar o Agora e fugir a ele. Por outras palavras, quanto mais identificado você estiver com a sua mente, mais sofrerá. Ou poderá colocar a questão deste modo: quanto mais você honrar e aceitar o Agora, mais livre estará da dor, do sofrimento - e da mente egica.

Porque é que a mente recusa ou resiste habitualmente ao Agora? Porque ela não consegue funcionar nem permanecer no poder sem o tempo, que é passado e futuro e, por conseguinte, para ela o Agora representa uma ameaça. De fato, o tempo e a mente são inseparáveis.

Imagine a Terra desprovida de vida humana, habitada apenas por plantas c animais. Teria ela ainda um passado e um futuro? Poderíamos nós falar de tempo de maneira que fizesse sentido? As perguntas "Que horas são?" ou "Que dia é hoje?" - se houvesse quem as fizesse — não fariam qualquer sentido. O carvalho ou a águia ficariam estupefatos com tais perguntas. "Que horas são?" perguntariam. "Bem, é claro que é agora. Que mais poderia ser?"

Sim, é certo que precisamos da mente assim como do tempo para funcionarmos neste mundo, mas a certa altura eles tomam conta das nossas vidas, e é aí que a disfunção, a dor e o desgosto se instalam.

A mente, para garantir que permanece no poder, procura constantemente encobrir o momento presente com o passado e o futuro e, assim, ao mesmo tempo que a vitalidade e o infinito potencial criativo do Ser, que é inseparável do Agora, começam a ficar encobertos pelo tempo, também a sua verdadeira natureza começa a ficar encoberta pela mente.

Um fardo de tempo, cada vez mais pesado, tem vindo a acumular-se na mente humana. Todos os indivíduos sofrem sob esse fardo, mas também o tornam mais pesado a cada momento, sempre que ignoram ou recusam esse precioso Agora ou o reduzem a um meio para alcançarem um determinado momento futuro, o qual só existe na mente e nunca na atualidade. A acumulação de tempo na mente humana, coletiva e individual, contém igualmente uma enorme quantidade de dor residual que vem do passado.

Se quiser deixar de criar dor para si e para os outros, se quiser deixar de acrescentar mais dor ao resíduo da dor passada que continua a viver em si, então deixe de criar mais tempo, ou pelo menos crie apenas o tempo necessário para lidar com os aspectos práticos da sua vida. Como deixar de criar tempo? Compreendendo profundamente que o momento presente é tudo o que você algum dia terá. Faça do Agora o foco principal da sua vida.

Atendendo a que antes você vivia no tempo e fazia curtas visitas ao Agora, estabeleça a sua morada no Agora e faça curtas visitas ao passado e ao futuro quando precisar de lidar com os aspectos práticos da sua situação de vida. Diga sempre "sim" ao momento presente. Que poderia ser mais fútil, mais insensato do que criar resistência interior a algo que já é? Que poderia ser mais insensato do que opor-se à própria vida, que é agora e sempre será agora? Submeta-se aquilo que é. Diga "sim" à vida - e verá como de repente a vida começará a trabalhar para si cm vez de contra si.

O momento presente é por vezes inaceitável, desagradável ou terrível. É aquilo que é. Observe como a mente classifica esse momento e como esse processo de classificação, esse permanente ditar de sentenças, cria dor e infelicidade. Ao observar os mecanismos da mente, você sai para fora dos seus padrões de resistência e então poderá permitir que o momento presente seja. Isso dar-lhe-á um vislumbre do estado interior livre de condições exteriores, do estado de verdadeira paz profunda. Depois veja o que acontece, e tome providências se for necessário ou possível.

Aceite - e depois atue. Seja o que for que o momento presente contenha, aceite-o como se fosse escolha sua. Trabalhe sempre com ele, não contra ele. Faça dele um amigo e um aliado, e não um inimigo. Milagrosamente, isso transformará toda a sua vida.

Eckhart Tolle nasceu na Alemanha, onde viveu até aos treze anos de idade. Depois de se licenciar pela Universidade de Londres, trabalhou como investigador e supervisor na Universidade de Cambridge. Aos vinte e nove anos, uma profunda transformação espiritual levou-o a mudar radicalmente a sua maneira de encarar e viver a sua vida. Nos anos que se seguiram, dedicou-se por inteiro a compreender melhor e viver mais profundamente esta transformação, que marcou o início de uma intensa jornada interior. Eckhart Tolle não está filiado a qualquer religião ou tradição espiritual. Através do seu ensino, tenta transmitir a mensagem profunda, simples e atemporal que os grandes mestres sempre tentaram transmitir: é possível acabar com o sofrimento e alcançar a paz através da meditação.

8 comentários:

Anônimo disse...

Muito Obrigada.

Anônimo disse...

Na teoria fica tudo tão simples, tão fácil.

Acho que ninguém nunca está preparado para um sofrimento.

Têm gente que exterioriza, têm gente que interioriza, cada um sofre do seu jeito. Mas a dor, o sofrimento, acho que só o tempo mesmo.

Principalmente quando perdemos algo ou alguém. Não é fácil.

Anônimo disse...

MARAVILHOSO O TEXTO!
Me recorda as palavras de Saikawa Roshi no Seshin: "A dor existe,o sofrimento é opcional"
Obrigada,
Um grande abraço,
Em gassho,

Cris

Anônimo disse...

è...complicado.Aceitar os incovenientes da vida.O caminho nao será ter conciencia e lutar para transformar? aceitar as injustiças,os preconceitos,a vida como(ditada pelos mais poderosos e injustos,nao é reforçar a dor no mundo?).O pobre aceita a miseria que os mais ricos impoe;a violencia sobre a mulher;os preconceitos odiosos.Sao marcas de sofrimento humao.Nao dá para ficar de braços cruzados e aceitando a vida...cada qual tem o direito de ransforma-la para melhor.Vida é evoluir .Evoluir é açao de mudnça.Queremos o melhor na civilizaçao.Eu sofro com a miseria imposta,o cinsmo,a manipulaçao,os peconceitos e falo,grito,brigo para mudar.As leis existem e mudam com o tempo para melhorar a sociedade.Milagres?é estar consciente das miserias e tentar melhorar o mundo.Gosto do pacifismo de Ghandi,por exmplo,mas até Ghandi fez greve e fome para fazer a razao acender nas mentes do seu povo.Sei que estamos na nossa pre-adolescencia mntal da humanidade.Educar é exercer a autoriedxde com lucidez.Em nossa era estamos perdendo todo tipo de razao e lucidez ,eis o problema.Desculpe a reflexao longa e franca.Infelismente nao sou tao otismista,mas é bom que os otimista exitam .Foi boa reflexao.bom fim de semana e paz.

Esteja Aqui e Agora... disse...

Duas chaves muito simples, porém difíceis de serem colocadas em prática, constituem os fundamentos da não-dualidade:

1- Esforçar-se para estar aqui e agora, do jeito que é.
2- Ser uno com o que está sendo, do jeito que é.

Lembrem-se que as impressões negativas e dolorosas do passado ganham força, seu impacto sobre nós, justamente porque não conseguimos dizer sim a elas, aceitá-las e, portanto, os acontecimentos são reprimidos e rejeitados. Por esses mesmos motivos, é o passado que nos impede de estar aqui e agora, de nos desapegar.

Barbarella disse...

Victor Frankl, um psiquiatra judeu preso pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial, usou sua experiência brutal e desumana nos campos de concentração para obter uma compreesão mais profunda de como as pessoas sobrevivem aos sofrimentos ou às atrocidades e concluiu que “o homem está pronto para suportar qualquer sofrimento e disposto a isso, desde que e enquanto consiga ver no sofrimento um significado”.

Maria João disse...

e não é que acontece mesmo!!!
"Aceitar" palavra chave, aceitar o que "já" e tudo muda.
Mas mudar mesmo isso só acontece quando nós próprios mudamos.
"sê a mudança que queres ver no outro" sem denuncia, no silêncio consciente, no perdão na humildade e na alegria da partilha.
Meu Deus tanta coisa eu ainda tenho que mudar em mim antes de querer mudar o mundo.Mas uma coisa aprendi, no presente eu estou a Viver de verdade e sempre que vou para outro "plano" qualquer perco o maior espectáculo de sempre.
Um abraço para todos os seres de todos os mundos.
O meu maior desejo?
que todos despertem para este estado maravilhoso.
um dia acontecerá sim!!!!
Maria João

Esteja Aqui e Agora... disse...

O mundo que devemos mudar é o nosso... o nosso mundo interior.

Gasshô!