terça-feira, 5 de abril de 2011

Além do óbvio


Quando o filme ALÉM DA VIDA (Hereafter) começa, com a impressionante sequência do tsunami, ainda que o espectador desconheça a obra de Clint Eastwood poderá imaginar que o filme continuará tão movimentado quanto o seu início. Aos poucos, porém, ele precisará entrar no ritmo característico deste diretor, cuja sutileza e sensibilidade em seu ofício é algo cada vez mais admirável. O filme tinha tudo para se tornar um melodrama espírita desagradável, mas o diretor soube compor cada cena com extrema sensibilidade. É como se, à medida que ele fosse envelhecendo (agora com 80 anos), a vida se tornasse cada vez mais preciosa. Pois, por mais que a morte esteja presente na vida de cada um dos três protagonistas, é a vida o que mais importa no filme. Nesse sentido, o filme se liga a MENINA DE OURO (2004) e GRAN TORINO (2008), que também lidam com a morte, mas no caso de ALÉM DA VIDA, principalmente com a dor de quem fica, e de uma maneira bem menos sombria.


Eastwood está costurando aqui três historias distintas, ainda que no final elas se unifiquem. E é natural que uma ou outra história se sobressaia em relação à outra. No caso, o drama mais comovente pra mim envolveu o personagem de Matt Damon. Em uma cena eles estão experimentando uma comida com os olhos vendados num curso de culinária italiana que é de dar água na boca, mas a sequência seguinte, no apartamento, é de causar dor no peito e lágrimas nos olhos.

O filme é também uma mostra do quanto o mundo ficou pequeno, e de quanto às distâncias se encurtaram. Se o dialogo encurta caminhos, a conexão entre as pessoas pode fazer muito mais.

10 comentários:

Estrada Aberta disse...

Se me permitem discordar um pouco...

Eu posso estar enganado em minha interpretação, mas não tive a mesma impressão sobre este filme.

Acho que o filme seja muito focado na morte de uma forma tão anti-natural e dualista, que não vi tanta diferença entre os filmes espíritas atuais.

Tem algumas passagens interessantes, principalmente as sincronicidades envolvendo os personagens. Mas ainda assim, não captei a ideia do "aqui e agora" por parte do diretor. No geral, a maioria do público (talvez uma consequência atual) é de buscar refúgio em respostas na pós-vida.

Para mim, a ideia de vida após a morte ou espírito é irrelevante na ótica do Zen. A morte deveria ser encarada como um processo natural da vida.

Gasshô

rosana disse...

"A morte deveria ser encarada como um processo natural da vida." Escreveu Eduardo no comentário anterior.
Deveria ser é diferente de ser.
Nós estamos aqui no planeta como humanos em busca da perfeição espiritual. O caminho é longo, e poucos de nós já chegaram lá. Os momentos de lucidez proporcionados pela prática do zazen, com certeza nos facilitam a caminhada; mas a morte, para a grande maioria, ainda é uma espectativa que gera sofrimento.

No dharma
Gasshô
Rosana.

Estrada Aberta disse...

Olá, Rosana...

Eu sinceramente não entendi quando você diz "deveria ser é diferente de ser."

O ser é transitório e impermanente....assim como a vida e morte. Então o ser naturalmente já está implícito em ser diferente de ser."

Quando você diz que a busca da perfeição espiritual é a diferença da naturalidade da vida, eu entendo que você está visando algo fora e separado da naturalidade da vida.

A maioria das pessoas, ao meu ver, são tudo menos "elas"....não presentes no fluxo natural e dinâmico.
Então podemos aplicar isso com a relação com a morte.Uma morte não-natural é uma morte encarada fora do presente momento - seja perdido em pensamentos futuros ou desejos de vida após a morte ou não.

A morte, assim como a vida, assim como o sexo, como o movimento tem que ser vivida naturalmente. Concorda?

Unknown disse...

Olá, MIchel! Recebi o link de seu blog, e achei tudo a ver com o que trabalho...Assim, pensei em trocarmos links, se caso lhe interesse. Tenho em meu site já uma indicação de blog sobre Budismo, e colocaria tb o seu site. Em troca, vc deixaria num espacinho aí o link do meu site e minhas japamalas à venda..Fiz isso no do MHzan. Veja lá:
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Namastê,
Safih

Ronaldo disse...

Uma postura tao critica e rigida tambem nao condiz com a otica zen.

Para quem ainda luta com a mente, a morte continua desconhecida e nao tao natural como se diz ser.

Estrada Aberta disse...

É...talvez eu tenha visto o filme com uma visão pré-conceitual de que se trataria de mais um filme espírita.

Por isso tive essa conclusão meio literal demais. Talvez a ideia do diretor tenha sido justamente mostrar que o mais importante é a vida, e não a morte - retratando personagens confusos com suas experiências.

De qualquer forma eu não fui rígido ou inflexível em minhas opiniões, foi só uma impressão pessoal mesmo. Para mim ainda continua desconhecida, mas como para o nosso amigo Ronaldo não é mais, ele poderia então revelar-nos.

Quanto à morte, continuo não confabulando muito sobre o seu mistério, assim como Confúcio já dissera: " não sei o que vem depois da morte porque não morri".

Marecia disse...

.....

Sempre é saudável estar a par de todas as vertentes sobre O Além Morte...
Uma coisa é certa....seri aum desperdício...tanta emoção...tanto Saber...para apenas uma vida tão curta.

cleide disse...

Concorddo com vc Marecia. De que nos valeria tanto aprendisado e as vezes, tanto sofrimento se a vida acabasse sem nenhuma explicação...

J. Frederico Schmidt disse...

Não existe morte e nem mistério para quem conhece.
Mistério é algo desconhecido.
A vida do nosso espírito é permanente e eterna
O corpo material que usamos para manifestação do espírito é que morre, ou melhor dizendo, retorna de onde veio que é a natureza.
Devemos ter cuidado para empregar as palavras transitório ou impermanente.

Gislene disse...

Olá Michel!

Achei este filme muito inteligente.
Gostei daqui, te sigo com alegria!

Um abraço,

Gislene.