quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Vidas passadas


Talvez alguém possa pensar que, quando falamos do conhecimento das vidas anteriores, estamos nos referindo ao conhecimento do passado e do futuro no sentido usual destes termos. Porém que valor poderia ter tal coisa? Se unicamente se dessem conta de que a natureza original e imutável do Eu não é santa nem mundana, ignorante nem iluminada, chegariam a compreender que todos os ensinamentos e todos os princípios nascem da Mente. É por isso que, tanto a ilusão dos seres comuns quanto a iluminação dos Budas, mora na polegada cúbica de suas mentes e não pertence absolutamente aos sentidos, aos seus objetos, à mente ou seu domínio. Como poderiam, chegados a este ponto, falar em termos de "passado", de "presente", de "budas", ou de seres comuns? Não existe nada, em última instância, que oculte a visão, ou partícula de pó que manche as mãos. A Mente vazia e resplandecente é imensa e ilimitada, é o Thathagata (Aquele que vem e que vai do assim-como-é) eterno e perfeito que mora idêntico em todos os seres, e que estão iluminados desde sempre. Deste modo, quando há compreensão, nada aumenta; e quando não há, nada diminui... "Adquirir o conhecimento das vidas anteriores" significa, pois, chegar a perceber que Isto tem sido assim desde sempre.


Se não chegarem a penetrar nesse domínio se encontrarão constantemente desassossegados por todo tipo de sentimentos relativos à ilusão e ao despertar. E então se deixarão arrastar por todos os sinais do passado e do futuro e não compreenderão, em suma, que existe um Eu Verdadeiro nem tampouco esclarecerão que, na Mente essencial, não pode haver engano ou confusão alguma. Sem alcançar tal domínio obrigarão a que os Budas se dêem ao trabalho de aparecer neste mundo e também serão a causa do patriarca Bodhidharma ter vindo da Índia no passado distante. Este e não outro é o significado da aparição de Buda em nosso mundo e a intenção original da viagem feita por Bodhidharma.


Sejam então muito cuidadosos e cheguem a entender que a Mente original é profundamente sapiente, carece de erros, é resplandecente e não pode ser ocultada. Assim, pois o sentido de "adquirir o conhecimento de vidas anteriores" consiste em perceber a natureza desta resplandecente luminosidade original.

Poema de encerramento:

Hoje também tenho algumas humildes palavras com as quais gostaria de aprofundar um pouco mais este princípio. Vocês gostariam de escutá-las?

"Em vidas passadas
despojou-se de um corpo após outro.
E hoje finalmente encontrou
seu Velho Companheiro."


~Mestre Keizan Jokin Sama (1264-1325) - "Anais da transmissão da luz"(Denkoruku) - Trecho do Teisho do caso 19.

Tradução livre do espanhol por Monge Ryozan.

Um comentário:

Monica Torres disse...

"Reencontrar o velho companheiro". Finalmente compreendi o significado das experiências pelas quais venho passando.
Faço psicoterapia há vários anos, buscando me valorizar, me aceitar como sou e me sentir digna de ser feliz. Nas sessões geralmente levo o problema que me angustia e com tecnicas utilizadas pelos psicologos de um modo geral, entro em contato com a origem desses sentimentos. Encontrei respostas na infância, no útero e para minha surpresa, fui encontrar as respostas em outras vidas. À princípio achei estranho e fiquei em dúvida se eram lembranças ou fantasias. Por fim me convenci de que eram lembranças verdadeiras, pois elas me ajudaram a compreender e modificar meu estado de angústia e ansiedade. As sessóes sempre ocorreram com muita espontaineidade. A terapeuta não se intitula terapeuta de vidas passadas, nem tem essa proposta de trabalho. As lembranças simplesmente aparecem. Vinha me questionando muito sobre o porquê dessas lembranças. Sem dúvida que ao ver o erro em que incorremos buscamos não errar mais, mudar o rumo de nossas vidas, aceitarmos melhor nossa atual condição e as dificuldades pelas quais passamos. Até ler este artigo eu não tinha atentado para o verdadeiro significado dessas regressões, que é entrarmos em contato com o nosso eu divino, que possui toda a sabedoria e amor que necessitamos para nutrirmos a nós mesmos e dividir com as pessoas que estão à nossa volta. O importante não é lembrarmos do que fizemos e sim termos consciência das inúmeras oportunidades que tivemos para crescer e chegar até onde chegamos.
Obrigada!