sábado, 27 de dezembro de 2008

Culto ao prazer


Uma das características das formas tradicionais de Buddhismo é uma desconfiança básica quanto à nossa relação com o prazer. Simplesmente não sabemos lidar com ele, e, na verdade, raramente conseguimos não nos manter viciados em suas várias formas. Isso não é um problema atual, mas faz parte da história da humanidade; porém nos últimos séculos tem se tornado não apenas um vício, mas algo incentivado, aceito, idolatrado.

Se na história antiga de todos os povos, geralmente influenciados por ensinamentos religiosos e éticos, ainda havia uma ênfase na importância da moderação, da vergonha moral, da vida simples que seguia o caminho do meio, hoje, pelo contrário, as principais forças sociais e econômicas se nutrem da força do desejo. A publicidade e o comércio não existiram na forma que existem hoje, senão pelo culto ao 'mais e mais belo e mais potente...'; companhias fazem ações sociais não pelo bem que se quer fazer, mas pelo desconto que terão no imposto de renda; políticos não mostram ou comentam o que fizeram, mas o que farão no futuro (baseando-se então nas expectativas do povo, e não na realidade como suas plataformas), isso em meio a showmícios, festas e compras de votos (ó! será que isso ainda ocorre no Brasil?...); a cultura cada vez mais valoriza a pessoa sem barreiras morais, e liberdade se tornou não mais o ideal interior da pessoa superior mas o seguir sem rédeas toda e qualquer vontade dos sentidos.

Não é a toa que o Buddhismo não seja popular atualmente. Opss! Mas o Buddhismo É cada vez mais popular! E isso deveria nos fazer pensar, não? Como os 'budismos' que se tornam populares o fazem nessa cultura atual? Que exceções, meio-termos e omissões precisam efetivar para que sejam aceitos na cultura? Quanto devem omitir dos ensinamentos do Buddha para quem sejam consumidos, pessoas apareçam e sejam considerados legais? 'Ser budista' está na moda, não?

E junto com o vício no prazer vem o culto à personalidade, dentro e fora do 'budismo', ao indivíduo que aparece, se mostra, se destaca. Não é de se surpreender com a perplexidade e mesmo desapontamento que alguns têm quando expostos a ensinamentos do Buddha, pelos menos aqueles ensinados por ele... Continuando com as homenagens aos cem anos de aniversário de Tan Ajahn Buddhadasa, seguimos, na seção de 'Tributos', à procura daquele esquivo senso de desapego...

Originalmente publicado no blog "Folhas do Caminho".

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