sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Lei do Carma


A lei do carma, que significa literalmente lei de causalidade dos atos, diz que todo ato realizado na dualidade de um sujeito e de um objeto, quer seja esse ato físico, verbal ou mesmo mental, acarreta um efeito de volta para aquele que age. Esse efeito e de início completamente invisível e imperceptível, semelhante a uma marca ou uma semente que se inscreveria nas camadas mais sutis da consciência individualizada, aquém mesmo do inconsciente dos psicanalistas, na alayavijnana, isto é, o reservatório, ou melhor, o potencial de consciência. A partir desse estado latente começa um processo de maturação que se estende geralmente por várias vidas, até mesmo sobre centenas de vidas, ao fim do qual a semente cármica exprime-se determinando, sejam circunstâncias gerais de uma existência (sexo, nacionalidade, riqueza, possibilidades físicas, intelectuais e afetivas, etc.), sejam condições passageiras (uma doença, um encontro, um sucesso, um fracasso, etc.). O todo funciona – trata-se apenas de uma comparação – à maneira de um computador: os dados ali são extremamente numerosos, agindo uns sobre os outros, e a adição de novos dados modifica, mais ou menos, os resultados. Visto que agimos constantemente sob o império da dualidade – funcionamento deformado que só cessa com a liberação – é um fluxo permanente de novos elementos que nutre nosso potencial cármico, ao mesmo tempo que urna constante maturação elimina dele antigas impregnações. O conjunto do processo, longe de ser estático, é um movimento contínuo. Resta não esquecer que todos os fenômenos que regem nossa vida são a expressão de nosso carma e que isolar um elemento é um erro com freqüência cometido. Pensar que, por exemplo, se caímos enfermos, é um resultado cármico e que é, portanto, inútil nos tratarmos é uma concepção completamente fragmentaria, esquecendo que nosso carma quer que tenhamos também médicos e hospitais a quem nos dirigirmos. A lei do carma é, de fato, uma visão muito ampla das leis físicas que regem nosso universo. Se semeamos trigo, não crescera arroz. O acaso não governa nesta matéria, assim como não interfere nas condições de existência dos indivíduos. Muito complexo, pois dependendo da interação de urna infinidade de elementos, a causalidade cármica resume-se, portanto, a um principio muito simples: quem cria o sofrimento imprime em seu próprio âmago um potencial de sofrimento, quem cria a felicidade imprime um potencial de felicidade.

Extratos do livro de Bokar Rimpoche "Meditação - Conselhos ao Principiante" - ed. Shisil

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