terça-feira, 8 de julho de 2008

"Trabalhar com todas as coisas"

Os pronunciamentos dharrna de Joko são modelos de uma simplicidade incisiva e de um senso comum perspicaz. Sua própria existência de lutas e crescimento e seus muitos anos de compaixão sensata em resposta aos traumas e às confusões de seus alunos originaram nela tanto uma espantosa capacidade de insight como a presença pedagógica de frases hábeis e imagens ricas. Seu ensinamento é bastante pragmático, menos voltado para a busca concentrada de experiências peculiares e mais dedicado ao desenvolvimento da compreensão relativa à totalidade da vida. Claramente ciente de que uma abertura espiritual intensa induzida de modo artificial não assegura uma vida organizada e compadecida (e pode inclusive ser prejudiciaI), Joko mantém uma distância cética em relação a todos os esforços musculares de superação das próprias resistências e diante de todos os atalhos para a salvação. Ela prefere um desenvolvimento mais lento, saudável e responsável da personalidade como um todo, no qual os obstáculos psicológicos são confrontados em vez de ignorados. Um de seus alunos, Elihu Genmyo Smith, reflete o modo como sua mestra pensa com a seguinte descrição:

"Existe uma outra forma de prática que chamo de "trabalhar com todas as coisas", incluindo as emoções, os pensamentos, as sensações e os sentimentos. Em vez de afastá-los ou mantê-los à distância com o uso da mente, tornando-a uma espécie de muro de ferro, e perfurar seu cerco com nosso poder de concentração, abrimo-nos para tais vivências. Desenvolvemos nossa percepção conscientes do que está ocorrendo a cada momento, de quais pensamentos estão surgindo e passando, de quais emoções estamos sentindo, e assim por diante. Em vez de uma concentração de foco estreito, a nossa é uma conscientização extensa.
O foco consiste em tornando-nos mais conscientes e despertos para o que está ocorrendo "dentro" e "fora"."

No sentar, sentimos o que é, e permitimos que isso prossiga, sem tentar contê-lo, analisá-lo, afastá-lo. Quanto mais enxergamos com nitidez a natureza de nossas sensações, nossas emoções e nossos pensamentos, mais seremos capazes de enxergar naturalmente através deles".

Agindo a partir de uma noção de igualdade, Joko considera-se mais uma guia do que um gurú, recusando-se a ser posta em qualquer pedestal. Em vez disso, partilha as próprias dificuldades existenciais, criando dessa forma um ambiente de trocas que fortalece, em seus alunos, a capacidade de buscar seu próprio caminho.

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