segunda-feira, 14 de abril de 2008

Descobrindo a natureza búddhica

O buddhismo Zen é baseado na idéia de que, já que todos os seres sencientes têm uma natureza búddhica, para atingir a iluminação é apenas necessário descobrir este buddha interior. Já que você já é um buddha, você está iluminado no momento em que entender sua verdadeira natureza. Digo que o Zen é mal entendido porque as pessoas muitas vezes acreditam que este "descobrimento" da natureza búddhica interior pode ser atingido sem trabalho. Este não é o caso. A prática Zen real é muito disciplinada e muitos anos de estudo devem necessariamente preceder a liberação "súbita" na verdade. (Hsing Yün, Only a Great Rain)

Alan Watts foi um dos poucos ocidentais que conseguiu compreender a sutileza da mensagem do Zen e acabou sendo um dos maiores divulgadores do Zen-Budismo. No seu Livro "O Espírito do Zen", ele escreve o seguinte:

"Assim como é impossível explicar a beleza de um pôr-do-sol a um homem ego de nascença, é impossível aos sábios encontrar palavras que transmitam sua sabedoria aos homens de menor compreensão. Pois a sabedoria dos sábios não está em seus ensinamentos: se assim fosse, qualquer um poderia se tornar um sábio simplesmente pela leitura do Bhagavad Gitá, dos Diálogos de Platão ou das escrituras budistas. Sendo assim, alguém poderá estudar esses livros durante toda a vida sem ficar mais sábio, pois buscar a iluminação em palavras e idéias é como esperar 'que a visão de um cardápio possa atingir e satisfazer o organismo de um homem esfomeado'. Entretanto, nada é mais fácil do que confundir a sabedoria do sábio com sua doutrina, pois na ausência de qualquer compreensão da verdade a descrição dessa compreensão feita por outrem é facilmente confundida com a própria verdade. Todavia, essa verdade não é real, assim como a placa que indica uma cidade não é a cidade."
Em um diálogo antigo, o mestre ensina para seu discípulo por que não devemos acreditar apenas nas palavras, pois elas são ilusórias. O Mestre ensina ao discípulo o valor que deve ser dado às palavras:

Um monge aproximou-se de seu mestre — que se encontrava em meditação no pátio do templo à luz da Lua — com uma grande dúvida:

"Mestre, aprendi que confiar nas palavras é ilusório; e diante das palavras, o verdadeiro sentido surge através do silêncio. Mas vejo que os sutras e as recitações são feitas de palavras; que o ensinamento é transmitido pela voz. Se o Dharma está além dos termos, porque os termos são usados para defini-lo?"
O velho sábio respondeu: "As palavras são como um dedo apontando para a Lua; cuida de saber olhar para a Lua, não se preocupe com o dedo que a aponta."
O monge replicou: "Mas eu não poderia olhar a Lua, sem precisar que algum dedo alheio a indique?"
"Poderia," confirmou o mestre, "e assim tu o farás, pois ninguém mais pode olhar a lua por ti. As palavras são como bolhas de sabão: frágeis e inconsistentes, desaparecem quando em contato prolongado com o ar. A Lua está e sempre esteve à vista. O Dharma é eterno e completamente revelado. As palavras não podem revelar o que já está revelado desde o Primeiro Princípio."

"Então," o monge perguntou, "por que os homens precisam que lhes seja revelado o que já é de seu conhecimento?"
"Porque," completou o sábio, "da mesma forma que ver a Lua todas as noites faz com que os homens se esqueçam dela pelo simples costume de aceitar sua existência como fato consumado, assim também os homens não confiam na verdade já revelada pelo simples fato dela se manifestar em todas as coisas, sem distinção. Desta forma, as palavras são um subterfúgio, um adorno para embelezar e atrair nossa atenção. E como qualquer adorno, pode ser valorizado mais do que é necessário."
O mestre ficou em silêncio durante muito tempo. Então, de súbito, simplesmente apontou para a lua.

2 comentários:

Anônimo disse...

muito bom o texto...gostei da mensagem...!

Anônimo disse...

muito boa a mensagem, gostei bastante...para refletir!