sábado, 19 de abril de 2008

Generosidade

Existe uma história no Tibete a respeito de dois irmãos; um deles pos­suía noventa e nove iaques, enquanto o outro tinha apenas um. 0 irmão pobre estava bastante contente com o seu único iaque; estava muito feliz e acreditava que era possui­dor de grande riqueza. Possuía um iaque e isso era de fato tudo o que precisava; era o bastante e ele não tinha nenhum receio em particular de perdê-lo. Na verdade, o prazer de possuí-lo era maior que o medo de perdê-lo, enquanto o outro irmão estava sempre com receio de perder os seus iaques. Ele sempre tinha de cuidar deles e, nas Terras Monta­nhosas do Tibete, normalmente existem muitos lobos e ursos montanheses e os iaques muitas vezes morrem com as priva­ções do inverno. No que se refere aos cuidados com os ani­mais, existem muito mais problemas lá do que nesta parte do mundo. Assim sendo, um dia, o irmão rico pensou: "Bem, acho que vou pedir um favor ao meu irmão." Entendam, ele não tinha apenas medo de perder seus iaques, mas também tinha muita ganância de possuir mais. Dirigiu-se então a seu irmão e disse: "Bem, sei que você tem apenas um iaque que não faz muita diferença para você. Assim, se você não tivesse nenhum, isso não teria muita importância. Porém, se você me der o seu iaque, terei então cem iaques, o que significa muito para mim. Quero dizer que cem iaques de fato significam algo. Se eu possuísse tantos iaques assim, seria realmente uma pessoa rica e famosa." Assim, ele pediu o favor, e o outro irmão desistiu do seu iaque com facilidade. Ele não hesitou, apenas o deu. Essa história, então, tornou-se conhecida no Tibete ilustrando o fato de que, quando alguém tem muito, deseja mais e, quando tem pouco, está preparado para dar. Aí está a possessividade, a ânsia psicológica; e isso se refere não só ao dinheiro e à riqueza, mas também ao sentimento profun­damente arraigado de desejar possuir, de desejar manter as coisas, de desejar que as coisas pertençam de modo definitivo a você.

Extraído do livro: Meditação na Ação, de Chogyam Trungpa.

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