segunda-feira, 7 de abril de 2008

SOBRE TEMPO E JABUTICABAS

Contei meus anos e descobri

que terei menos tempo para viver daqui
para frente do que já vivi até agora.

Sinto-me como aquele menino que
ganhou uma bacia de jabuticabas.

As primeiras, ele chupou displicente,
mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices.

Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem
eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Não quero perder tempo com futilidades.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências

que estabelecem prazos fixos

para reverter a miséria do mundo.

Não quero que me convidem para eventos de
um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis

para discutir estatutos, normas,
procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar

melindres de pessoas, que apesar
da idade cronológica, são imaturas.

Não quero ver os ponteiros do relógio

avançando em reuniões de
"confrontação", onde "tiramos fatos a limpo".
Detesto fazer acareação de

desafetos que brigaram pelo majestoso

cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou:

"as pessoas não
debatem conteúdos, apenas os rótulos".
Meu tempo tornou-se escasso

para debater rótulos, quero a essência,
minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia,

quero viver ao lado de gente humana,
muito humana;

que sabe rir de seus tropeços,

não se encanta com triunfos,

não se considera eleita antes da hora,

não foge de sua mortalidade e

defende a dignidade dos marginalizados.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade,

desfrutar desse amor
absolutamente sem fraudes,

nunca será perda de tempo.

O essencial faz a vida valer a pena.

(autoria desconhecida)

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